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POESIA PANFLETÁRIA
CARTA LUSORIA
RETIDAS IMAGENS
NO FUTURO DE TUDO CONSTRÓI-SE O PASSADO
MAIS DE MIL ANOS PASSARAM POR MIM.
O ANO MIL DE 1948 PODERIA TER SIDO 1912
A DESCOBERTA, 1962 A REVOLTA, 1972,
O RETORNO A DOIS MIL.
FOTOGRAFIA
O MAU
DITO CLAMA
ESPAÇO
Memória
Por amor
Por sua simpatia
Por sua fé inquebrantável,
Segue com você um
Sofrido pedacinho de mim
Poesia bendita
Coração do meu passado
Pré
Eu sou um artista que
trabalha com imagens, desenhos, películas, fitas, kinopoemas, vídeo, arte e
muito raramente cinema. Explico ao possível leitor e ao desconhecido amigo, que
este sonhador não pretende ser um poeta a mais neste mundo, despreza esse
mundo, suas convenções, suas regras, e assim é tratado mal e dito como um
revoltado, um louco sem cura, pelas instituições políticas e culturais, que
conhecem o seu trabalho e querem destruí-lo pelo esquecimento. Antes pela força,
agora pela miséria. Assim, para esses neófobos, uma única métrica, metralha de
corpos e nada mais.
Estes poemas singelos são uma
homenagem à minha avó - uma intelectual rural nascida em Santa Cruz do Escalvado,
pequena cidade do interior de Minas. Foi ela quem me conduziu pelos engenhosos
mistérios da música, da poesia, da literatura e de todos os segredos das artes
vividas.
Quando jovem, minha avó viveu
grande parte de sua adolescência trocando poesias, sonetos, recebendo
autógrafos de alguns dos mais interessantes brasileiros do início do século.
São poemas e dedicatórias que aqui, audaciosamente, junto aos meus, publico. Sem
perder a autenticidade, a riqueza e o delírio da boa poesia, o antigo texto, que
aqui é novo, misturou-se ao meu passado parnasiano, barroco, a construção da
liberdade modernista. Um templo romântico de poesia inocente. Alguns poemas
políticos e datados misturam-se a prosa.
É a poesia revolucionando a adolescência perigosa na época quando o
Brasil insistia em nos fazer sofrer.
No cinema, fui poesia em
todas as imagens que até agora realizei e continuo, insistentemente, ainda fazendo.
Arrastando-me, com destreza, nas esquecidas histórias das terras brasileiras,
procurando o caboclo oculto das matas, o homem brasílico, personagem da minha
inspiração que precisava muito conhecer. Revi vendo esse quase diário poético e
viajei no futuro, pois, como disse o poeta Murilo Mendes, só ele é moderníssimo.
CARTA PRIMEIRA
A
BOCA NO MEIO
DO INFERNO PROFUNDO
Ele nasceu osso duro de roer - suposto delito deleite
de poucos sabores - branca luz dos seus seios a lambuzar coisas pequenas.
|
Ele nasceu sorrindo e depois chorou o charme discreto
enlameado na fazenda dos Barros e nas obras menores do divino em sangue e areia.
Ele nasceu contradição e descaso - televisão desligada
- antena quebrada pela força dos ventos.
Ele nasceu sombras que rodeiam o meio-dia explodindo a
luz do pensamento num caos colérico de alegria.
Ele nasceu parabólico das imagens - por todos os lados
se envergado em busca do saber e como um ser alado em busca do sol massacrado
das necessidades - néscio do mar louco
de viver.
Porta negra sem casa.
Navegando no nada.
Afogando-se. Vir a ser.
Ele nasceu só como um tigre cego ao natural sem
bengala e sem mortalha e sem querer.
Lembra-se sempre que és pó e só um simples mortal pode
ao pó retornar.
Ele eterno pó - pérola pré-fabricada de plástico - mulher
indesejável
trapo sujo no pescoço social
passa correndo atrás do osso
que foi duro de
roer...
Ele que nunca foi ninguém deixa hoje de ser. Ele - um
anjo louco barroco das catedrais criatura de chaga e gozo - um semideus vivo de
fogo que passa pelos portais do inferno rindo da ironia que atrai e conduz ao
retorno
antes de morrer
Ele é aquele rapaz que veio ver
ao lado do pai, observador enfraquecido, o velho astuto ensandecido satanás.
Conto Poético
No início do século vinte um
cordel de histórias românticas. A todo encontro um poema, um texto um
autógrafo, um retrato, um postal. Nas cidades, nos correios, sempre algum
calígrafo romântico a branca donzela encantava. Para Rui Barbosa escreveu mil
cartas de amor, mas só João do Rio é quem soube a ela dar o seu valor. Coelho
Neto, quando a viu, não se esqueceu do polígrafo que era e, do atormentado de
então, nos deu, peregrino da terra, o culto e a tradição. Mas foi o príncipe
Olavo Bilac, sem alarde, apostolado cívico do Brasil afora que à tarde em Ouro
Preto se encontrava, magro, tremendo, fazendo da sua dedicatória um grande e
grave segredo em reflexões amargas a via láctea do enredo. E assim os poetas
nos dizem da criação na persistência do amor. Olha, lá vem vindo o autor do
nosso hino de escola! Osório Duque - Estrada, um mulato gozador. Por Minas
barroco o gigante encurvado caminha, entre o desejo e a campina, onde a branca
flor invade o limbo, majestosa, quase louca, hoje velha, o poeta nos ensina -
que na terra andam os homens e no céu voam as meninas.
“Zizinha é um nome pequenino e altivo
que de tudo que é grande tem a palma,
Pois que este nome assim diminutivo,
é aumentativo da grandeza d`alma”.
Emílio de Menezes 1915
Pé de manga
Era
uma
casa antiga
uma rua única
uma cidade
uma
igreja
uma SANTA
CRUZ
uma
ilha do Escalvado
um mar de montanhas mineiras.
um
queijo do serro uma
panela de goiabada
uma
cozinha escondida cheirosa
uma
pinga da roça
uma galinha
perdida
um
bandolim escondido uma esquecida
poesia
um
licor de jabuticaba
um
violão esquecido
uma
mangueira encorpada
uma
morena formosa.
VINDO DA TERRA DOS MORTOS
“E
para você de mente aberta,
minha meta indecente é ser zebedeu,
pois
meu inferno ultimamente é o seu.”
Neste dantesco novo mundo
Com os sortilégios de sempre
Quero
me apresentar
Aos anjos descontentes
Mefistófeles
ser
Metrópoles
corpo
Acrópoles
desígnio
Fausto
louco
Amigo
universal
Deuses
Desta
festa.
REVELE
Revés Invento
O tempo.
Remexendo
velhos papeis
descubro
histórias
compasso lógico
DADOS PERDIDOS
há muito
esquecido
do meu ser
CINEMA.
Eu vi é vil.
Pior que a fome
é o progresso
com sotaque!
Foi
A Light é a Esso
todo um mal
invade.
Não há imagem
sem a Kodak
neste
BRASIL CINERAL!
O PRIMEIRO AMOR
O AMOR
Parado no espaço. No tempo. Dentro do fim.
Refletindo sobre as vinte mil linhas escondidas
No labirinto feminino de ideogramas desconhecidos
A VIDA.
No que pese a natureza do Eu
No templo ígneo de mulheres destemidas
Prepara-se a trama aflita
A LIDA.
O corpo me dói com o medo
Tudo aquilo que devo dar
Passar certo segredo
O MAR.
No dia que o sol for primeiro
Demore a lua no céu de Alá
Observando o cruzeiro ali
OFIR.
Do sul para o norte sem direção
Um cometa de mil raios se via
No fim mil mundos em vão
AGADIR
No meu coração o céu
Biblioteca das ilusões
Minha razão me diria
ALEXANDRIA
Nesta louca brincadeira
Pantagruélico banquete
Bem doloroso seria
Se não fosse gostoso comê-la
SEGUNDO
Se minha vida
nesse mundo idiota
medrasse alguns devaneios
agradar-me-ia a lorota
do amigo a dar conselhos
Ora, quem sabe o que sente
explode em vertentes
de águas sem fim
Mas quem sente o que sabe
sacode e invade
o tédio infinito
que tens para mim.
TERCEIRO
No
verão o sol.
Na
praia quente as morenas.
Só
quero viajar
no
inverno de lá
quando
aqui da praia só sobrar o sabor do limãozinho.
Já
não posso mais ficar neste Rio de horror.
Tenho
que conhecer a Inglaterra - Londres.
Tenho
que fugir e ler Shakespeare.
Passear
pelos mistérios das Catedrais.
Ir
à Itália com Dante Alighieri.
Visitar
Ezra Pound em seu exílio.
Dedicar-me
ao estudo da Alquimia e da Astrologia.
Ir
à China - Hong-kong - Macau
ver
o túmulo de Mao e a cidade proibida.
Andar
de bicicleta e me encontrar com Sá Carneiro.
Visitar
o Egito inteiro e decifrar o enigma.
Analisar
Freud e me masturbar na casinha de Reich.
Fazer
Ioga e melhorar a respiração
no
Tibete
Ir
à pré-história sul-americana
Cusco
- Machu Picho - Tiahuanaco
a
Terra do Fogo e correr nos Andes.
Mascar
muita coca.
Beber
muito Pisco.
Ficar
enlouquecido por Copacabana...
E
no lago Titicaca?
Escrever
mais dois livros.
Fazer
vários filmes.
Ler
diariamente os jornais.
E
o underground?
Meu
Deus!
Não
posso!
Não
tenho mais tempo!
QUARTO
Maldita hora, maldita
existência, maldito desleixo.
Maldito momento em que me
levantei desta carinhosa almofada.
Maldita existência, pueril e
bárbara, acossada por migalhas.
Malditos mil novecentos e
sessenta e quatro.
Não consigo deixar de lado,
na memória, a hora hostil.
Mas não me falta o prazer.
Novamente para sempre quero
ficar em casa com você...
Sobre o sofá me declino nas
formas absolutas de seu corpo.
Os espessos pelos soltos na
virilha
vale as pernas nas penas do
meu travesseiro
onde me aconchego.
Pelos de ganso. Brejeiro
desejo molhando a boca.
Penso nobre: são os seus
seios – devaneios?
Sinto
o seu gosto no tato da língua na sede e no meio.
Pelo
seu amor, célula sedutora moldada em seda,
ralo
o meu sexo.
Observando
as paredes nuas, frias, brancas, magras de suas costas, indiferente a tudo e a
todos – eu sou seu eu.
Abro
o seu fechoecler e desnudo o meu ser.
Cada
vez mais baixo resistente aranha vaga
solenemente
perto da montanha senil.
Ela
me empurra no toalete das emoções - imaginações?
O
sofá exalta-me o estilo.
Perco
o sentido satisfeito.
Intranquilo,
porém renovo o fluxo do ar nos meus pulmões.
Vendo-a
coberta de fumaça adiante passando com seu
tortuoso
traseiro, enganando a porta estreita do chuveiro e balançando em cadentes
deleite nos intervalos de água abundante, o sabonete perfumado de lavanda no
seu ventre ardente de cigana.
Entre
um passo e outro aumentando firmemente o meu desejo, em sua ausência vejo, na
súbita hora o supremo desleixo da história, propondo à majestosa heróica e dura
resistência, um compromisso com a memória e outro com a consciência.
QUINTO
Da esquerda bacana
Notívago, fortuito, escabroso.
Animo-me ao som amistoso do JAZZ
A nata
negra da música americana
.
EU SOU SAMBA
Perdido sou braseiro
Aconchego de índio, negro e mulato.
EU QUERO
Ser bamba como o pajé das matas.
Soturno como o candomblé que mata.
Infortúnio do medo que ataca.
Xenômano em posições distintas.
Parcimonioso com meu destino.
Recriminando o instinto.
Fazendo uma finta.
Com o meu assassino.
VIVER
Com a fome do saber divino
Na fé de um povo novo
Com direitos - sem destino Numa reza maltrapilha.
Mundo imundo mudo e tosco
Lava minha alma!
Leva meu corpo já morto!
Padece e acalma!
Este pobre moço.
DIREITA ESQUERDA
Sou da direita babaca
Na vida é tudo ou nada
Dinheiro é poder
Fama e vitória
É sempre vencer.
Todos conceitos estreitos
Na força da pré-história
Quem tem medo de viver
Morre sem saber a hora.
SEXTO
A Liberdade
É toda azul
Horizontal.
No mar o sol poente é sangue
Rebelde vermelho
Vertical.
Na terra roxa e quente
Morre o Brasil
Central.
Na cachoeira amazônica enlameada
Explode as pororocas do medo.
Não são águas cristalinas
Da velha Ipanema em dias de sol
Mas é onda forte, verde, suja correnteza.
Iluminada pelo raio que corta a mata
Na imensidão do céu escuro tropical.
Uirapuru canta na mata
Há maldade no teu corpo
No teu sangue derramado
No teu cérebro, seu enredo
Nesta toada de pássaro preso
Chorando a tristeza de um amor passado.
Nas tardes chuvosas do Norte
O Brasil é a miscigenação de rios
Negros e Brancos no Solimões
O sol queimando a mata
Fazem esses duros olhos frios
Desmancharem-se
de amor
Observando a natureza.
A noite de lua rompe a nuvem densa.
Um corisco ao longe se dissipa.
Uma brisa fria acaricia minha pena
A sinfonia de um espetáculo majestoso principia.
Na terra pré-histórica e perene
Arde a LIBERDADE todo dia.
SÉTIMO
Deixa-me levantar
é demanda
O meu quarto está trancado
lá fora
Se meu santo me ajudar
nesta hora
Ponho tudo no lugar
sem demora.
Organização
Inocente enigma
luta de toda uma vida
Estigma de um louco
Sou um poeta caminhando
Sem memória
Na contra mão da mentira
Preso no cipoal da história
Só uma vez fiz versos de improviso
A maneira de um simples trovador
Quando senti a luz do teu sorriso
Nos teus lábios em flor.
Mendes de Oliveira
1971
RESISTÊNCIA
Por uma rebeldia sem ideologia.
Por uma juventude sem causa.
Por uma geração sem mácula.
No mar é verão.
Nas montanhas européias é
inverno.
na terra abaixo das asas do
avião vê-se
da janela o inferno da
repressão que ficou
As nuvens, são como ar
condicionado, refrescam o real.
O mar gélido assume agora uma
posição de defesa contra o invasor
Eis de novo o mesmo barulho
no céu
Uma velha senhora senta-se
desajeitada
com seus enormes traseiros na
onda que vai e volta.
A velha e o seu prazer de urinar
n'água.
Um vagalhão gigantesco
arrasta todos para a areia
O brasileiro adora urinar nas
ondas nacionais.
Um velho navio de guerra
assume seu papel no desfile da praia, onde só existe um obstáculo:
A ilha cagada e o passarinho.
O real é só para trouxas e
cochos.
A quinta frota americana de
bermuda colorida fotografa a fauna enquanto nós somos invadidos pela insolação
que consumiu nossas cabeças no milagre econômico do golpe.
Para alívio da palavra tentei
uma conversa com o vizinho
Mas uma libélula barulhenta
passou zunindo acabando de encobrir o último raio de sol.
As nuvens passam refrescando
Dois Irmãos e a Pedra da
Gávea
O mar quebra suas ondas em
harmonia
De repente o vento sopra para
o sudoeste e chove.
A última gaivota plaina em
minha frente.
Um só pensamento vaga por
minha cabeça
Tenho que ir - deixar esse
país - abandonar a minha família voar para fora – morrer por dentro.
Conselheiro
O Urubu-rei Glauber me fez ver a revolução que existia
ainda por se fazer... No cinema...
Filmar e experimentar da fruta amarga americana... Indústria
que nos alimenta dia-a-dia neste mundo louco de imagens em que vivemos...
Fazer filmes aqui é viajar com os pássaros negros
predadores que voam em círculos...
Carcará - visão de vida subliminar compreendida entre
um e outro fotograma - olhos abstratos cinzas com rajadas - entretom de preto e
branco - idéias coloridas pelo pensamento - sombras de um e do outro lado do
dado contados nos dedos armados de rápidos raios de luz que invadem o movimento
lento do plano que busca no equilíbrio da forma a moldura da arte
expressionista.
Minha vida está lançada à sorte...
Voltarei! Brasil! Meu nome agora é Antônio da Morte.
ESTOU INDO
Não
sei se me retiro ao convento
ou
se me achego mais perto
por
amor neste momento
procuro
ser mais discreto.
Estou
chegando com o vento...
invadindo
o seu lar
um
aerodrama barato
propondo-me
ao sabor da arte
um
rimado bate-papo.
Vou-me
embora pelo mar...
Telefona-me
ainda hoje
seja
breve... Sem demora eu te peço
nada
impede o amanhã
ter
um fim no frio programa
desta
noite interminável
Para
por fim nesse nosso lero-lero
sem
amor e sem sexo é melhor morrer
E
você, de olhar profundo, aonde vai?
Estou
indo! Pega leve!
Se
não posso mais ser vida
Também
não quero mais tevê!
HALL
Para
sua cultura indico um computador
2001
de cinema.
Só
assim podemos ter uma linguagem contemporânea.
De
manhã meditação com a natureza
mastigando
arroz integral cru
umas
mil e uma vezes
para
ter saúde.
Pois
o caminho do homem
é
o infinito dele mesmo ...
E
o da máquina?
Só
Deus sabe.
TENHO FÉ
Não
quero mais te ver
Por
mais sinceras que fostes
Partindo
ao romper da aurora.
Versejavas
à noite quimeras
Não
a prosa que agora impera
A
donzela do açoite.
Vá!
Pega correndo este avião.
Vou
te ver num cabaré de Paris
Enlaçar
como cobra a maçã
Dominando
com Eva o terreiro
A
quem mais queria ver minha irmã?
Belzebu
o rei das trevas!
Ou
o velho carpinteiro?
Vai!
Não me perca mais este avião!
Leva
meu corpo carrega o meu carinho
Deixa
comigo o coração do menino
A
Europa é meu destino
A
América é seu caminho
Vou viver em Amsterdã
EXÍLIO
O amanhecer em Norwegianwood
não tardará e quase não terá
fim.
O sol vermelho não esconderá
os seus raios
O sangue e o dia amanhecerá
novamente.
Os campos de trigo vão estar
floridos.
Quero caminhar por eles e
depois amassar o pão.
Quero aproveitar a luz sem
fim e passear pelas estradas floridas da Noruega.
Quero me eternizar nos galhos
da madeira nobre
No pinho de Riga de uma
fazenda
coberta de gelo e de solidão.
Quero cobrir todo o seu corpo
até virar uma árvore verde secular.
E que os frutos desta árvore
sejam saborosos e saudáveis
E que as flores se abram e se
desdobrem em amor
E que os pássaros que nela
pousarem sejam coloridos e cantarolem canções de ninar
E
que o céu continue sempre azul nas estradas sombrias do nosso exílio.
DÚVIDAS
Só
De tempo em tempo
De páginas em páginas
Dos contos aos cantos
Das sombras nas sombras
Solene espera a partida que vem.
EUROPA
Em Paris
Sonhava no meu sono a saudade
quando a luz o divino libertou.
Ora, quem vê
em um olho a verdade
e no outro, entreaberto, meu destino
minha metade, minha sina, minha
dor?
Tomei-me
de susto com tamanha glória
mil corpos nus enrolados em lã
embriagados na memória
numa predisposição malsã.
Repetiam num langor:
um cigarro por favor
mais nicotina, mais maconha
mais cafeína, mais cocaína,
mais morfina, anfetamina e
o ópio em flor, uma vergonha.
A heroína deitada ficou
balbuciando em ouvidos surdos
cegos conceitos, falsos miúdos
e o nada refletido no espelho
d’alma foi o tudo que restou.
QUIMERAS
Os homens
novos num sentimento primário
do sentir e do saber
na complexidade dos códigos contemporâneos
desconhecidos do poder
exilados
cobrem-se de vergonha
totalmente
cegos qual Prometeu
sem conhecerem Ulisses
acorrentados
se arrastam sob o domínio de Penélope
entre a junção do trágico e da farsa
entre as mulheres e os animais
discernindo entre o mito e a lenda
jamais o que é novo
o novo homem novamente traz.
Falar a tempo e tanto quanto
baste ao assunto.
Quem muito fala corre o risco
de comprometer-se dizendo de si ou de outrem o que fora melhor calar.
A discrição é a fidelidade da
língua e, quantas vezes, por inadvertência ou assomo, deixamos escapar um dito
cujo efeito acarreta-nos amargos dissabores.
Os que ponderam ensinam com o silêncio;
Coelho Neto
Rio, 19-11-1913
RETORNO A REALIDADE
Cheguei ao país vindo de longe...
Do outro lado do Atlântico...
Pensei: talvez a distância seja boa...
Quem sabe possamos ser livres...
Um pássaro longe do ninho
é como se fosse um menino
sem lugar, sem destino
brincando de esconder.
Disse-me então o motorista
no taxi do aeroporto:
Neste ano serei
garoto da pradaria
brincando todos os dias
sem polícia e sem bandido
sem ter medo de morrer
Não o deixe mais sozinho!
Gritou ele lá de longe:
Liberdade! Pode-se ter
neste país tão distante
onde um
menino do rio
morando na rua
e no frio
morre quando é preciso viver.
Meninos que sem passado
sem família abandonados
perseguido noite e dia
por polícia e por bandidos
Mas com muita valentia
mesmo por um breve instante
vão nesta vida vencer.
BAHIA
A morte a espreita torce
frontalmente a porta
estreita.
Sente e mente no doce enfoque
vento do norte
em Ajuda enfeita.
Morosamente
embala e tece
uma rede grossa
de se deitar.
Um beijo ao menos
nos enlouquece
de frente
na fresta
enfrento
à quem chegar.
A vida luta
adulta e forte
no mar de lama
que a tudo encobre.
Do carvão ao diamante
roda a sorte nesta terra
transformando chumbo em ouro
acobertando o corpo dela.
DESCOBERTA DO
AMOR
Ao
ver o ouro em suas mãos
senti
meus dedos tremerem
só
antropofagia nos une
dedos
e mãos
todos
os membros
novos
e rígidos
manipulando
coisas velhas e frígidas
traçando
no espaço feminino
a
hipérbole do abismo
Como
milho em pedra mó
vou
moendo e vejo o ouro
tal
qual mouro de Veneza
transformado
em puro pó.
Lambuzado
de prazer
entre
o eu e o existir
meus
sonhos cinzas
são
pesadelos de varias línguas
na
insônia do ciúme
tenho
medo de morrer
onde
amassei de tudo
e
fugi do nada.
Não
posso dormir mais cedo
pois
consigo pensar melhor
só
no cú da madrugada
Ouvi
então este conselho:
fuja
deste amor menor
quem
nunca te deu carinho
quem
passa dias no espelho
vaidosa
que dá dó
não
é flor é só espinho
vai ralar e viver só.
Delírios do Adeus
Não jogue fora meus livros -
velhos
Não me atormente demais -
justifico
Com os olhos sujos - eu
insisto
Aos nossos filhos
os discos e os livros
bota fogo no resto que
sobrou
todo luxo é tudo lixo.
Não se preocupe se eu me vou
voando volto amanhã
amável
vou para onde tudo
pode se transformar.
Dormindo não sinto o tempo
Acordado perco a memória
Ninguém consegue saber.
Morrer é olhar sem lembrança
Uma terra muito antiga
Espaço sem esperança.
Viver é fogo que lança
Mato fechado na infância
Rápido passa sem ver
SERRA E MAR
O
sol poente se esconde
por
trás das montanhas de Minas
da
praia eu vejo ao longe
Ouro
Preto, Barbacena, Leopoldina.
Ah!
Polonesa bailarina
ao
seu lado vou me deitar
deslizando-me
na pele branca e fina
suave
e luxuriosa menina
passo
o dia a pensar:
-
Se a rosa traz amor a quem lhe poda
por
mais puro que se apresenta tê-la
sucumbir
nos espinhos pouco importa
tocá-la
nesta noite é querer vê-la.
CARTA
SEGUNDA
"Quanto caberá de um coração entre
as páginas de um álbum? Quanto
couber tudo acima nestas três
linhas".
RUY BARBOSA
Rio, 24 fevereiro, 1913
ESTAÇÕES
Evoé!
É outono artistas atormentados
nenhum ciclone me derruba
sou mais forte que a ventania
mais audaz que a águia
mais poderoso que Rodes
mais sarcástico que a hiena
mais saboroso que a cachoeira
mais infinitamente
miraculoso
mais arguto que o lince
que tudo isso vê.
Um verão de muita ironia
vocês verão meus amigos
não basta por mais calor no
inferno
faz-se inverno em vossas
vidas
e se estiver faltando
dinheiro
e se vocês estão aflitos
coloco meu melhor terno
faço o meu pior filme
pois é a primavera
transformando-me em
Midas.
MEMÓRIAS SERTANEJAS
“Morro
da Piedade
minhas
memórias das Minas tendem a tumultuar
volto
hoje de um mundo largo ao meu curto e
amargo lar.”
Não foi o samba do Pereira nem a cachaça da terra
que me trouxeram de volta a Minas.
Nem foram as trevas que encobrem as montanhas
nas noites sem o luar do sertão.
Não foi o silêncio que me deixa longe do bulício
das grandes metrópoles ocidentais.
Nem tão pouco o pássaro preto que sobrevoa as copas
das árvores mais altas a procura da minha alma perdida nesta tarde infinda
que me trouxeram de volta a Minas.
Não foi o delicioso gosto do pão de queijo e do beijo
envenenado de sabores mil.
Nem o sorriso faceiro daquela morena brejeira que a
todos sabia encantar
que me trouxeram de volta a Minas.
E não seria por pouco que todos os meus amigos loucos
que melhor me receberam
gritassem ao vê-la solta e linda pela montanha
altaneira aquela boca de ouro tesouro de algibeira
que mineiro sabe guardar.
Seria
então Diamantina - o barroco negro – as igrejas
e seus mistérios, ou os santinhos de
madeira perdidos nos antiquários dourados de seus casarões
centenários cemitérios
ou seriam as grandes
catedrais ebúrneas
dos meus sonhos passados
que me trouxeram de volta a
Minas.
Foi então o pesadelo
medonho – sonho presente de ser -
mineiro - aventureiro -
natural e vacinado contra a raiva trazendo de volta aquilo que não há mais pra
ver
a riqueza do solo sagrado e
você.
Foi, isto sim - os Brasis
braseiros da liberdade
que a Minas me trouxeram está
tarde.
oh! Minas não há mais!
e eu sei por quê
levaram-na.
A cada um que um dia a
deixou
e a mim também.
corrói-me a alma
Mas aqui vou nesta tarde
de volta estou
Já cansado do eterno
retorno
Na fossilização dos ossos e
da carne
Na imensidão do além do morro
da piedade.
MISÉRIA
Há fome,
de desejos
de dejetos
recolhidos no lixo
na tevê
há fome de queijo
nos despejos
na família ressentida
na praça ou debaixo da ponte
há fome.
nas lavouras abandonadas
nas matas e nas queimadas
nos cenários das cidades esquecidas
há fome.
nas crianças perdidas numa montanha de
fezes
nos
polibandidos massacrandos inocentes
aflitos
neófitos de mentes arrasadas
há fome
de tudo quanto
o choro derramado
pela fome da vida
possamos ter .
CINEMA
Well
Orson!
Saber
Ser Sal
Ser Sol
Ser Só
Sem Ser
Super Star
Brasileiro
É Fácil
Nem tudo
é verdade
É que é
difícil
Sganzerla
Império do Ouro
“The mystical city of
gold
Glittered with wealth
untold
in midst of lake of
sapphire blue”
1978 outubro 10.30 manhã cinzenta e quente.
12 homens armados vestidos de autoridade
invadiram a terra e expulsaram a vida
daquele mundo perdido de Deus.
Vila de Getúlio Vargas. Município de Curuça
100 quilômetros de Belém do Pará.
180 colonos expulsos com suas famílias
das terras conquistadas com suor de seus braços.
Casas destruídas, plantações queimadas
num cenário simples de fome e humilhação.
Vida inútil e difícil
gente humilde
calos nas mãos
nos pés
nos rostos
nos corpos
nas almas.
Posseiros!
Enteados da
terra
inimigos
frágeis do poder.
Paraíso da miséria
Amazônia
Natureza morta
Torta verde sem cor
Terra
bebem no teu seio o sangue de teus filhos.
Selva
Túmulos dos que não te renegam.
Há quem pinte sua faceta com rímel
há quem te vista de seda e nylon
os que te vestem de chita
os que te pintam de urucu
estes estão à margem da vida:
afogados nos rios
mortos nas tocaias
envenenados
bárbaros e
selvagens
companheiros de infortúnios
vírus naturalista
doenças endêmicas
compondo a sinfonia deste continente.
Amazônia
Paraíso perdido
Terra em estado de sítio
Verde sem cor.
NOTURNO
Esta luz de néon invade o cosmo
vinda do fundo de um cabaré.
Na minha alma um sonho
um átomo, um corpo estranho
tamanha luz, incêndio não é.
Estranha entranha
caminho róseo
a procura do coração
que insistentemente
sem nenhum propósito
rouba da escuridão
o insólito ar do meu pulmão
Desejo o sono do meu quarto
Declamo tristes trovas de paixão
No extraordinário correio da luz
No princípio o caminho da
artéria
No final o martírio da cruz.
ACRÓPOLES
Zeus, o que é isso?
Essa merda, isso tudo
são palavras?
Soluços impessoais, solos
grotescos.
Somente você revolucionários
da espécie
sente o meu doente deleite.
Estava em Lancaster entre os
negros da África, Pelé, Mangrove, com sobremesa de banana carameladas mais sorvetes
de creme e uma vela acesa.
Na noite escura e fria um
sarro em Noting Hill Gate.
No Brasil, lá distante o
calor e o sangue quente são derramados no arame farpado da fudida prisão.
Nos corredores encurralados das
ruas e dos estreitos becos sem saída, a solidão do ser britânico nas tortuosas
torturas de Londres.
No labirinto da cidade de
brinquedo eu me perdi.
No orgasmo do medo todos nós
nos perdemos.
Histórias sem vida, morte sem
glória.
london, london, london, ilha velha
É o meu segredo
Zeus o que faremos?
Quero voltar para casa!
Retornar ao lar, ao abrigo
atlântico ao Olimpo.
Aqui não posso mais ficar ingleses
do pós-guerra, coisa de otários, piratas mutilados na mais pura doença.
Sou um homem comum, um ninguém
cultivo os sentimentos humanos e só lá, na minha terra, posso me fazer
entendido.
Lá o sucesso me espera e a
palavra vingança se pronuncia
depressa. Como passa o tempo
e o ano que vem o dinheiro não vem. Lá tudo é esquecido. Ácidos, drogas de
exportação.
Nesta ilha para alguns poucos
não há prazer só mil brigas de morte e conversas sem fim – loucura de muitos -
saúde de poucos.
Neste festão sidéreo, os espiões
viajantes, alguns dos nossos amigos, burocratas do sistema, tentam penetrar,
mas são estigmatizados pela lucidez, não entram e nem passam pela porta.
Mas também renunciar a toda
retribuição do amor é um sacrifício que só o ódio está pronto a oferecer. Todos
nós nos vingaremos na hora certa eu tenho certeza destes canalhas. Não se deixe
incrédula diante da miséria insurgente. Aqui, ela existe mascarada de nobreza
pelos becos mais sombrios. Lá, com nosso povo sofrido, pelo menos dá samba. A
violência ainda não subiu os morros da cidade e ninguém nos conhece.
Aqui é tal qual a Madri do
generalíssimo em guardas de quarteirão, todos me chamam pelo nome e sabem onde podem
me encontrar. É hora de voltar, não resta mais dúvida. Pego hoje mesmo um avião
- e a prisão? Você se esqueceu? - Você se esqueceu de suas histórias, não eu!
Tenho ainda que descascar muitas bananas e abacaxis até recuperar toda a minha
dignidade. É preciso retirar as ferraduras que machucam as patas da besta para
que ela paste novamente e se torne selvagem, bela e livre e todo o resto e
assim volte a normalidade.
Brigadeiros, Almirantes,
Generais, retirem os cascos para o país voltar a sua legalidade antes que se
faça uma nova revolução, só que esta verdadeira. As intrigas foram longe demais
e destruímos a cada hora nossos tesouros ainda escondidos na juventude valorosa
aqui perdida nas mesas do rei Artur.
Neste rico país brasileiro tem
um povo pobre, mas ainda feliz, não deixem que isto se acabe. Não deixem o
samba morrer.
O rock só é bom para quem
aqui viu que merda que é o rock.
Deixem que nós todos possamos
voltar à praia que tanto amamos, aos bares e rodas de chopes que nos mata de
saudade. Ah! Que falta eu sinto de uma empadinha de galinha e de uma unha de
caranguejo. Do arroz com feijão e do angu com quiabo e de uma franguinha
mineira.
Aqui não tem isso não. São as
mulheres mais feias do planeta. Uma merda. Que palidez meu poeta estende-se na
face tua.
Zeus me tira daqui!
Chega de exploração.
Pirataria moderna, testas de ferro desta ilha miserável, nossos hospedeiros são
nossos algozes e estão cansados de tamanha marcha e contra marcha da história.
Jovens brasileiros, filhos de
uma conjuntura falida de idéias e atos, aqui em Londres nada dá. É ao contrario
daí, onde se plantando tudo deu para o burguês quem nada fez e vive rico como
um rei. Aqui esmolamos o nosso exílio.
Não vou mais ao cemitério
visitar o túmulo de Marx, pois já não quero mais ficar aqui, vou pra Paris, lá me
sinto mais feliz.
Adeus Londres, Zeus amigos,
meu país perdidos e dividido entre a Lancaster
Road e a Elgin Crescent W 11.
Fumando Number one e Guloise
aqui vou eu de fraque e cartola navegar no Rio Sena.
VIDA
Que dificuldade é terminar o
que se começou
Que abandono de alma é tentar
esquecer
Que sofrimento mais mortífero
é o amor
Que tristeza imaculada é se souber
perdido
Que santo-dia me afastei do
abismo
Quanta miséria tem nesta
estrada, amigo.
Quanta insuficiência na
ciência sagrada
Quanta negligência de espúria
conseqüência
Quanta luxuria e quanta
demência
Que se transfigura em
espetáculo de dor
Que se coagula em jorros de
sangue
Que é mistura dos homens, de
Deus e de horror.
Mulheres do mangue
que traz a fórmula do tempo
que exercita a lógica
delicada do trágico
A mim no que tange
a paixão eu invento e me
esquivo
da faca perdida na mão de um
mágico.
SEXO NOVO
Eu sei que te constrange o
sopro do meu coração
Neste sangue eu te canto uma
ardente canção
Pelo seu sexo molhado quente
tenho tesão
onde gosto infinitamente de
passar a mão.
Tenho minha língua em seus
ouvidos e
afasto-me aos gritos, aos
gritos de dor
Por que choras se eu gozo? Que
horror!
É o prazer! Isto te assusta?
Amor tu tens um furor de
menina
Tara animal de um ser maldito
Sem o seu sexo eu fico aflito.
.Passo o dia a reclamar
Oh! Pode ser que eu me fodo
Esquecendo-me no batuque e na
mandinga
no choro da cuíca dentro de
um trem da Central
no soluço de uma negra
agasalhando o meu todo
Isto não é normal? Animal!
Anormal.
O grito do zagueiro no ritmo
imortal do
samba afina o cortejo que passando vai e volta
entoando cantigas de meninas.
No meio de novo o povo
trôpego penetra com
alma o corpo da morena e
deixa que
o bravo guerreiro exploda
seus sentimentos na
porra de um mundo novo de
negros e fodas.
Que esta fera logo morra nos
sons de gritos
graves e agudos grunhidos em
tempos
infinitos de música universal
que em
súbitos sussurros cai de novo
na moda antiga
no seu louvor, conho de amiga, perpetuo o espírito
quando meu apêndice expele em
jorros o leite
nas pernas onde seguem os espermas aflitos da
vida.
"As
mulheres são como pequenos vasos
de cristal transparente.
Nós é que lhes pomos a tinta da ilusão e as vemos
azuis, rosas ou verdes,
conforme o estado d’alma.
Para perdoar e amar a mulher serenamente,
é preciso retirar a tinta.
Poderemos então ver
através o céu e tudo o mais".
JOÃO DO RIO (1914)
BURGUESIA
Quando sabemos que muitos
vivem muito bem
conservados nas distantes e
alienígenas tradições
com seus bens absurdos e de
mal gosto
cercados por um batalhão de
escravos
brancos índios negros e
mestiços burocratas
que comem de segunda a
segunda o resto desta industria desejando ser ignaro e arrependido
robôs que vagam em diversos níveis dos eternos
labirintos palacianos.
Cachoeiras de serpentes
o mundo caindo aos lamaçais
mexendo na informação dirigida aos débeis
mentais donos de jornais que
mentem com a verdade dos fatos maldosamente
mentem a favor do Capital.
E o maioral do norte dando o troco para o otário de
plantão no sul maravilha que mente em Brasília
invariavelmente mente
Até a morte mente
neste imenso e insano continente.
MATA VIRGEM
Exportando
uma salada oculta
entre
árvores centenárias
vai
a alma brasileira
em
nossa hileia abandonada.
É
isso aí bicho nacional!
nossa
Amazônia verde
vai
ficar careca e sufocada
com
chifres e cheia de praga.
Um
imenso matagal de baqueara.
Você
já foi à Manaus?
Uma
cidade de bichos malucos
que
fogem da miséria ribeirinha
das
drogas e dos astutos
abelhas
e suas rainhas.
Nesta
mata tem um velhaco
comandante
da polícia
frequentador
de palácios
matador
de seringueiros
dono
do pasto
destruidor
de barracos
nem
um pouco lisonjeiro
este
bicho vai embora
levando
as nossas riquezas.
Navios
de macaquinhos
araras
e jacarés
nossas
aves ele leva
de mansinho
e
folhinhas
milagrosas
pros
povos civilizados.
Depois
o que resta é o pobrezinho
de
um índio, de outro índio,
e de
um outro, todos com fome
dormindo
em pé.
Pintado
nas cores da terra
uma
tonelada de borboletas
sai
em direção de Miami
que
é casa de buriti
com
um sujeito pusilânime
cada
um cuida de si.
SANTA TEREZA
Morre
na pobre cela de um convento
-
toda de branco uma donzela pobre
os
sinos enchem de aborrecimento,
as
solitárias monjas com seus dobrões.
Naqueles
corações canta a tristeza
um
hino feito de emoções suaves,
e
a alma branca de Tereza,
voa
para o céu levada pelas aves.
Tinha
no corpo a cândice de um lírio
e
a carne macerada de martírio,
nunca
pecou, nem sonhou o que é pecado
Qual
avarenta pomba que morria
o
cadáver pálido parecia
uma
noiva enfeitada para o seu noivado.
Simão A...
1906
PARTIR
Só a dúvida perpétua é verdadeiramente
grande
Ma a dor da perpétua dúvida é verdadeiramente
pequena.
Viajar o mais depressa
possível!
Será preciso saltar o muro de
uma embaixada?
Levantei-me e andei em
direção ao posto nove
ir de Ipanema a Ramos pensei
é mais fácil
tendo a loucura exatamente na
cabeça.
Toda uma geração de loucos
e graças a Deus estou doido
se não estaria morrendo de
tédio
de desespero e de ainda não
ter partido.
Só um milagre me deixa ser
brasileiro por mais tempo.
Tortura!
Um carro buzina.
A paranoia aumenta.
Piso no asfalto ainda quente.
Olho firme o sol por trás das
nuvens.
Com sua luz faço cinema, me
elevo, me ponho acima.
Preparo-me para o Araguaia
com meu amigo Adriano.
Não! Ainda não! Não nasci
para ser herói, prefiro o vinho do porto, a liberdade da França e a loucura de
Londres.
CAMINHO DE MINAS
É
dezembro.
Nesta
estrada morro abaixo
tal
qual serpente vou indo
a
direita de Ouro Preto
a
esquerda da Ponte Nova
a
alguns metros de um posto de gasolina
fincado
no asfalto
no
alto da Serra
vou
indo
ao
escondido vilarejo de ruas estreitas
cobertas
de árvores perfumadas
de
velhos casarões coloniais
de
uma pequena mata
ainda
virgem
onde
lavadeira artesã
com
água clara
límpida
corrente
nos
pés de escravos
ainda
vou
indo
no
rio choroso
entre
fontes e flores ternas
por
pedras e igrejas
incrustadas
de ouro
vou
indo
me
molhar todo de prazer
na
cachoeira pré-histórica do Brumado.
BRUMADO
Minha
suave cidade.
Dependurada
despencada
entre
estranhas montanhas
vai
bela.
Redemoinho
de força
serra
de água
escultura
de pedra
ou
madeira, ipê amarelo, ou verde perdido.
Totem
e tabus traçados em terreiros
a
jorrar no espaço rico de pobres fazendeiros.
Ali,
na comarca vazia do ouro levado
pelos
portugueses vadios.
Ali,
no município de Mariana, mora, vive toda a vida,
cercado
dos filhos, dos amigos, lúcido da liberdade e dos sonhos
um
trabalhador
um
homem do povo
puro
e simples, filho humilde do campo
Artur
Pereira escultor
do
nosso imenso Brasil.
ESCULTURA NATURAL
O fim do equívoco
É hora de ser sensato.
Conheci Krajcberg numa
reunião equivocada de escultores brasileiros.
Ouro Preto. Minha Terra.
Minha Gente. Minas Gerais.
Em princípio podia-se
suspeitar que o velho imigrante polonês representasse como quase todos ali o
pensamento colonizado, muitas vezes colonizador, de uma ou varias culturas em
extinção, pois ultrapassadas.
Afastei-me das pressões
culturais, dos arrogantes, dos elitistas, da maioria dos que ali estavam, e
talvez por isso, aproximei-me do naturalista, do rebelde, do sexagenário
artista. Um escultor, mais preocupado com a existência do homem do que com a
sofisticada sobrevivência da arte.
Incansáveis e poderosos
defensores do equilíbrio
justo e universal
Uni-vos
É hora de ser sensato.
Nenhuma fé derruba a
montanha.
POETAR
Ratatatatatatatatata
o poeta metralha o ar
com vômitos de lobisomem.
cannabis de Barbacena
suas vísceras come.
Oh! poeta...
Por que encenas a fome
em textos mil?
Loucuras de um circo antigo?
Miséria de um velho amigo?
Ou apenas mais um nome
de um poeta no Brasil?
Diga-me então qual certeza
Possa ter a afirmativa:
- Que fácil é o trágico
que a vida encerra
em poesia tal nobreza
dá tal qual chuchu na serra
seu personagem se perde
independente de sua grandeza
nesta colônia de merda.
CARTA TERCEIRA
Em qualquer situação
sempre seremos utópicos, rebeldes e transformadores das circunstâncias.
O grande artista é um ser
revolucionário, caminha na frente da realidade, observa o mundo de binóculos,
longe de tudo e de todos, contempla a liberdade.
A NOITE LOUCA
Nada no bar.
Medra a luz
infinda.
Nos destroços
de papos furados
as rimas.
Estrofes temperadas
por um zé ninguém
do Reich.
Será assim que se escreve?
Dito alto
até parece!
Mas será?
todos querem saber
eu não sei responder
só
sei ser
sem ser
eis a questão
nacional.
Sem saber ser você
Todos nós somos
Brasil
pois é
essa árvore
dura
de roer
podemos
fudemos
a terra é fofa
Não há quem não sabe!
Quem sois vós?
Sabeis vocês
quem sois vós?
Enigmas
Projeções
Esferas
Feras findas
Serás íntimas
mulher
de um mesmo
mundo
de um mesmo
sonho
de todos...
os nossos sonhos coletivos?
Ônibus de poucos passageiros
seres vivos
de um bar
qualquer
Sombras mortas
procurando
um outro bar
um outro copo
talvez...
Oh! Ilustre estrangeiro
que importa
para o mundo inteiro
ser nesta terra
o ser verdadeiro
ou
o que não se viu
ser
ainda
por alguns minutos
menino
no tempo
senhor
da razão
do pião
e do iô iô
ele é que faz
noite e dia,
sim ou não
em mil
algarismo
no único silogismo
o maniqueísmo
chauvinista
desta questão.
É ele
que
passou muitas vezes desapercebido
me fez ver você - te encontrar
sem saber
fazer o que
ou ser simplesmente ser
quem sou
sem mais o que fazer
esta linda mulher
que me ama
luz e Ana
na cama.
Fontes de amores
me encante
com tamanha nobreza
oh! natureza
dos meus sonhos!
Eis o porvir
das Ambrósias
Neurastênicos das mulheres
Sucedâneos da
humanidade
dos tempo
em que o ser é o não ser
sendo
é assim!
Também
será que tem alguém
que pudesse desejar
UM NINGUÉM
bem alí distante
- um defunto
adiante
que a vida
deseja e tece
abale
o amor
que sempre foi
que sempre existiu
no infinito dele mesmo?
Tornando-se pó
Presente - coeso
na simples troca de olhar
onde o todo
o mais
se refaz
de um mundo maior
de um mar indômito
no vômito do verbo
ver
a noite
a lua
a linha
do horizonte
lá longe
nua e crua
vendo você
eu sinto
não minto
que lá no bar
a tocar
a sonata
desafino
os instrumentos
meus olhos
afino
meu ofato
sexto sentido
passando-lhe
o verbo
a verba
vejo-te
linda
paixão
mistério
do medo
de me ver ridículo
de antemão
no ensejo
de só tê-la então
nas minhas duas mãos
dentro dos meus dez dedos
à infinitamente cobiçá-los
nos seus desejos
o meu desejo
vejo-os
teso.
De Vieira a Ari
Nada me fará voltar ao
contrario
Andar de marcha ré?
Dois passos à frente e três
atrás
Precisamos é de um Irã
sem fundamentalismo
para salvar o cinema
viva a revolução!
Precisamos de um açodado
Godart
De um desesperado Glauber
Loucos para fazerem histórias
do ser ou do não ser ou do sem
fim.
Precisamos ser mais inteligentes
mais nacionalistas - trabalhistas
- realistas
A identidade é a premissa
de quem o mal é memória
Feliz daquele que sabe sofrer
Ei ê!!!
Brasil no carnaval da
política.
Vale tudo.
Telecotecotelecotecotecoteco
batia o Laurindo o tamborim
acompanhando o samba popular.
A cuíca lhe chama
chora o divino
lá no morro de mangueira
mugindo.
Pagamos a comida
de todos aqueles
que não se calaram
sem chorar e sem pensar
sem desejo e sem terra
sem salvação e sem solução
no paraíso inverso das amazonas
das escritas cuneiformes
extremamente musical
onde nasce o poeta tropical
a fala de acrópoles
a cidade de deus.
Chegando no Rio de Janeiro
meu amor juro por
Vinícius, por Zeus
que te ligo no meu celular.
Célula vida que provocará
Nitche e seu eterno retorno
na tarefa do super-homem
na memória do Brás.
Sou filho único
peguei o trem
latino na central
voltei
é meu destino
três passos atras e dois à
frente
é normal
não há no mundo para mim
ninguém que agüente
bolero igual ao que te
dediquei.
Tu sabes que sem você
a vida não é nada para mim
Caboclo do Rio
Cabocla do Rio
Cabocla meu barco amarrou
Cabocla tem compaixão
deixa meu o barco sossegado
me liberte desse amor.
Dona alegria correndo
passou por mim sem me ver
Foisembora!
Meus canarinhos
presentes de tantos Luís
que o sertão vai me dar
um padre Vieira
que faz o sol levantar
na sanfona bem tocada
com sentimento de santos
que o rio seco
se mire d’água
se fite no mar
aos prantos.
Chega Severina!
Não maltrate mais meu coração
O meu desejo
todo mundo quer cheirar
todo mundo quer dançar
todo mundo quer comer.
A mulher é minha
tira a sua mão
segura a sua maldade!
Olha o tiro...
Covarde!
Quero ver quem vai tirar
essa história de amor que
passa pelo povo na estação.
Do momento incerto
fez-se a revolução
Quem vai tirar?
Se pra uns ela traz alegria
pra outros ela deixa a
saudade.
Foguetes
tudo é festa
bandas passam entre uma
tristeza e outra
solta o rojão.
Cantiga muito animada
uma embolada
de Antônio Conselheiro
tenho o Sermão.
Canção
de Almirante
Pelo mar.
Engordou e ficou cheio de
dinheiro
uma embolada mineira
é toada sertaneja
e é tão brasileira
que cantando a noite inteira
não se vê o trem passar.
É tarde eu já vou indo
o país é grande demais.
Sertão que geme chorando
e sofre cantando como as
rodas do engenho
lá vou eu tocando meu gado
Guimarães Diadorim e o diabo
cansado de viajar
Ari nasceu em Ubá
com suas mangas saborosas
tem saudade da velha índia
que ninguém conheceu
e nem sabe como veio.
Ah! Meu Rio Grande do Sul
terra de Getúlio façamos a
revolução
dançando o fandango.
É que tu me quedas louco
rio impertinente do norte
e do sul refletindo a lua
e no olho da gente.
Tu não sabes a
responsabilidade
velho rio nacional
se misturas ao nordeste.
Minas e São Paulo
comandam a festa das águas.
E vai ser um tal de mexe -
mexe
tão bonito de mulher.
Vamos se despe
e faz a morena chorar
meu pedaço de ternura
minha terra esquecida
meu pouquinho de Brasil.
É como disse o gaucho
no estremo do sul
a contemplar a imensidão
da pátria.
Velho Brasil!
Eu venho te seguindo
no pasto o no rastro de suas
botas
é por isso que eu também
gosto de tudo que o velho
gosta.
ÁRVORE SECA
Abro mão de todos os meus
vícios
Se você me mostrar outro
caminho
Quanto mais, mais - disse
alguém
Isto só, não basta - minto
Não sou quem sou
Adivinho por instinto
Por isso Villa, Coltrane, Hendrix-Elvis,
Pinxinguinha-Mão de Vaca e
Jobim
Não me contento e não me
espanto
Isto só, não basta - disse
alguém
Quanto mais, mais minto
Não sou adivinho
só instinto
Abro mão de todos os meus
vícios
Não há outro caminho
mas sinto e insisto
que meu ser esta além de mim
Não sou quem sou
adivinha quem sou eu?
Não sou pitangueira nem dou
manga
Não sou quem pretendes
Ter - Ater - Ser - você
Anda, diz logo quem sou eu
uva ou abacaxi?
Beije-me agora
Eu não estou nem aí
para quem é você
sou ateu
não acredito em Deus.
Pergunte a mamãe e se puder
ao seu pai
quanto te custa o saber
o que se passa no seu coração
Não é com você - Eu não!
Se só queres romã
eu quero-te mais
Quanto mais - mais
Quero você.
Disse-me ninguém
Alguém além de mim
além de mim
além de todos nós
por tantos
deixa-me na montanha
à sós.
SEXO
Tá certo tamanha lucidez
Invejo a luz de teus olhos
Desejo o seu desejo
O medo e o método chinês
oriental incerto
de seu beijo
de lado deitado
enfim
mais eterno
mais cardíaco
mais rebelde
mais terno
mais direto
mais aflito
que a tempestade
o temporal
atemporal
que varre o vento
cria o vendaval e o furacão
quero-te em mim
o seu e o meu pensamento
o seu e o meu momento
o meu eu sobre o seu
em um só fim
gozando em mim
o seu momento.
Apocalipse
“No final no tempo não passará às horas
No renascimento o romper
da aurora...”
O mundo ficou louco
e eu estou aqui.
Não faz meia hora
meu amor foi embora
sem se despedir.
De dia faz frio
A noite está quente
Não há quem aguente.
Me dá arrepio
Eu viro vampiro
Não consigo dormir
Peguei o meu carro
saí por ai;
Vejo nas ruas
moleques
mendigos
e não acredito
naquilo que vi.
Um outro vampiro
de cara metade
mulher e macaco
um corpo de aço
que brilha na noite
de cara peluda
comendo um pedinte
matando uma puta.
Chutava o meu carro
tentava
arrancar
ele quebrando os vidros
mordendo-me o
pescoço
esmurro-lhe a cara
pra me afastar
e dar sumiço
sem ficar louco!
Louco! Louco.
Abro a porta que empurra o trouxa
arrancando em disparada.
Voltar para casa
o que mais
penso
mas me perco
na estrada
Já não sei como voltar
a cidade é outra
o país é outro.
overdose
de sexo e de prazer
sinto falta dela
dele e de você.
A velocidade me faz sonhar
paro na esquina
rua deserta
onde vejo o labirinto
que termina no mar
onde o sol triste desponta
horizonte
interestelar
Penso então que foi um sonho
tudo aquilo que passei.
Já faz mais de meia hora
que nesta esquina estou.
Não é sonho pensei
o sol despertava na aurora
a verdade descoberta
por meios e modos estranhos.
A maldade da mãe natureza
mais espantado me deixa.
Lá longe de não sei onde
um vento forte e bravio
esconde a luz tão distante
trazendo o medo e o frio.
Onde nasce a natureza da maldade?
Raios e tempestade no céu
grande onda de terror
confronto apocalíptico
milhões de homens aflitos
perdidos sem direção
invadem as grandes cidades
meio corpo meia cara
anjos de fogo
velas de santo
espada na mão.
Sinto então que é hora
de sair da multidão
de todas as cidades
que aos milhões
por todo mundo
por todas as ruas
por todos os becos
por cada esquina
buscam no terror
desta sina
na tormenta
da dor
a separaçã
seu ponto de
criação.
Labirinto
de Pedra
Esse é o lugar
onde o homem
deixa-se vencer.
Onde a luz
substitui o sol.
Onde a lua
mostra sua face oculta.
Onde o vento faz a curva
e o anjo louco escuta
o cantar do rouxinol.
É o lugar da santa
onde o barco corta
o rio caudaloso
de água escura
perdida no tempo
que canta
na voz do silêncio
onde o nada importa
provocando desconsolo
desfazendo-se da jura.
Foi nesse lugar
nesse templo do esquecer
onde guardei o segredo
do terrível desterro
onde eu me perdi de você.
Com certo olhar
abrupto, desmedido
marquei nesse lugar
um incrível abismo.
Aqui
toma-se
o sagrado absinto
à mesa dos amigos
para ver e viver
o caminho aflito
do lugar esquisito
onde o infindo medra.
Pois é nesse lugar
bandido
que inicia
com medo
o mito
do labirinto de pedra.
PARAÍSO
Sinto o desejo
de querer vê-la
como adão te viu
Eva sem véu
no meu paraíso.
Te deixarei
simplesmente
meus olhos
meu farol
amantes noturno
meu ser energético.
Quanto mais
o dia hermético
se fecha real
deletério do nada
morro com Bunhel
ressuscitando sempre
naquilo que mais gostamos.
Assim sou popular
assim sou fiel
sem me diferenciar
de qualquer cristão
do imbecil mortal
ao infeliz irmão
longe de todos nós
no mar que é vida
por ser constante
movimento
do vento
invento
minto
o mito
por sua misteriosa
harmonia
o meu desejo
vejo-te
ninfa
erguido
tenso
teso.
Mas me tento
o tempo todo
rezando o quanto posso.
Olha! Eu posso ser
um em um milhão.
Olha! Eu posso.
Não me falta trabalho
não me falta o malho
que tanto o corpo enobrece
quando me quedo em você.
Mas quem tu és
mulher de mil desejos?
Mexo em você
Transformo sua vida
Vejo-te em mim.
Meu amor
torna-se a sombra de
um indizível homem.
Entre as montanhas
das serras brasileiras
espinhaço, mucura, sucupira
mantiqueira, vinga um animal
e outros narigudos beberrões
torna-se mentirosos contumaz
ser lendário
monstros sedentário.
Hão de saber de mim
e de você querida.
Desculpa-me
pois me procuram...
o que foi meu e seu
o que nunca nos pertenceu
a nossa eternidade
onde só nos encontraremos
no infinito
dois paralelepípedo
duas partes
em um palito
megalítico.
FOTOGRAFIA
Que me importa a câmera lenta
da distância
se tão longe apaga-se a curva
da luz onde eu posso encontrar as paralelas de um retilíneo conceito a vagar no
universo.
Pois cego me vejo entre as
sombras de quem não encontra na mistura da piranga cor a luminescência que só
pode ser vista nas formas químicas de películas sensíveis.
O preto no branco afirma-se
nos moldes abstratos e infindos do nada.
Enfim desminta tudo o que
existe em mim
tudo de quem não quer nada
em degrade de tudo e de todos
que só pensam um pouco na frente e depois de muito mais na frente querer tudo
novamente.
Instantâneos de quem não se
encontra e deve se encontrar, disse o mago francês L’Herbie, disse você, disse
eu, disse alguém.
Nada digo a ninguém sobre o
caos que está sempre a me olhar na profundeza do ser.
Uma poesia, nenhuma
identidade, nenhum ser, tudo que se vê perdido, aflito, consome-se no que está
oculto na terra.
Esta luz proibida não se pode
ver.
Um alienígena talvez...
Você se correr talvez veja a
sombra.
Analfabetos das imagens nunca
jamais
fugirão da nossa cultura faminta.
Não mintas! Não te escuto.
Não te vejo
O que queres de mim?
Fotografias do destino não as
tenho.
Diafragmas de lentes
luminosas ou talvez o simples querubim de fadas em uma imagem qualquer posso
ter.
PRESSÁGIO
Não existe lógica nas
confissões da memória, são, em síntese, enigmas a serem decifrados no labirinto
grego das odisseias.
Profecias poéticas em
linguagem messiânica
onde o primeiro pensamento é a
linha de ação. O segundo é o deslocamento do significado e o terceiro é o
ataque ao insignificante.
O grande império e sua corte
européia perdem o controle da energia do mundo. Iniciam-se as conquistas dos territórios
que possuem reservas naturais tão necessárias à sua existência.
Este movimento bélico
expansionista avançam em direção das antigas e fracas colônias, e finaliza-se
com o domínio de fato e de direito de todo o planeta.
As revoltas sociais, no
começo, dispersas, divididas, se organizam e transformam-se na mais poderosa e
perigosa força de guerrilha urbana marginal que tem como princípio único a tudo
destruir.
Sem liderança fazem uma revolução
sem ideologia, sem rumo social, a qualquer custo.
Um velho guerreiro vindo do
sul comandando um pequeno grupo de revoltosos consegue, na sua caminhada em
direção norte e por onde ele passa sensibiliza a população sofrida a
acompanhá-lo.
Surgem então por todos os
cantos da terra esses personagens dispersos feitos em comunidades rebeldes e de
resistência.
PARALELAS
As normas existenciais
Exercidas durante a vida
Perderam-se com o tempo
Fluíram com o vento
Não as vejo mais
Foram lidas
Ainda
Cedo
Amanhã
Quem sabe
Posso vê-la
Novamente fluir
Sobre as nuvens
Fora do tempo
Em mundos paralelos
A nova vida
Coincidência
Só
na noite penso no dia passado
Só
na noite penso no descaso de quem perdeu o trem
Só
na noite penso no acaso universal das histórias
Só
na noite ouço o que passa na onda do rádio
A
mente demente simplesmente
Mente
tevê sem ser mais nada.
Você
o viu? Perguntou
Pura
coincidência.
Sintonia
das espécies.
Sinfonia
da saudade.
Nos
meus olhos não te vejo
Nos
meus lábios não te sinto
No
meu tato não te toco
Nos
teus braços
Minhas
mãos.
Pássaro
tardio traços de sentimentos
Mantra
no céu ecoa sortimentos mil
Pelas
montanhas noites passadas à toa
Queijo
de Minas. Serro do frio.
Zona
da Mata. Cor sobre o verde.
Ponteia
a estrada. Amanhece o dia.
QUADRO
Tempo perdido
Mito homem
Pinto mulher
Em cores
Com sorte
Quem quer?
SONHOS
Em toda a vida se sonha É preciso sonhar
Mas é
preciso mais ainda acreditar
nos sonhos
e torna-los reais
Objetivos e
insubstituíveis.
Não tem vento que sopre a favor
de
quem não sabe para onde ir.
CARNAVAL
Espelho Eletrônico
Luz profunda que rompe o espaço em
busca do nada.
Perdoa-me.
Não será a primeira
muito menos a segunda que
caio na mesma cilada.
Cativa-me.
Sofrendo e levando
alfinetadas
Pernadas
com cocadas e investidas
Segredos e mistérios profundos
Desejando-me.
Carnaval dantesco de máscaras
e sombras.
Algazarra de abutres no
banquete de malucos.
No seu corpo a terra virgem
do novo mundo...
Delicio-me.
Nas curvas suaves dos seus
pequenos montes.
No pico rosado de suas
montanhas de leite
Na carne vermelha do seu sorriso.
Inclino-me.
SE ESTOU PENSANDO...
Fico pensando sobre as coisas
da vida
Sempre procurando chegar ao
fim de tudo
Com a conclusão fatal às
vezes inexorável
De que não vale a pena viver
Quando acontece o caos
Na solidão de um condenado
A tempestade da alma
Arrebata o ser
O tempo dos anos não farda a
força do homem
Pois na cabeça do pensar ele
realmente não existe
Imagens que se transformam em
microespaço de luz
Podendo guardá-las no bolso
de uma calça velha
Em memória de tudo que um dia
foi analógico
Quero ainda viver romântico
ao som de um bolero
Lambuzar-me no suor de uma
cama de motel
Sugar com volúpia o amor
escondido da vergonha
Sofrer de ciúmes e da paixão
cósmica
Que eu ainda não pude
entender
Caminhando pelo mundo
Dando o meu último suspiro
Surpreendendo o amigo que
ainda permanece
Que aos poucos vai
desaparecer
Nos espelhos da história de
cada um
Vislumbro o sol e o mar
respirando liberdade
Até quando vamos aspirar à
vida neste breve caminhar?
Não sei responder e também
não quero saber.
Ando sufocado por tanta
miséria das nossas coisas
Neste vazio neural que por
nada já me deixo irritadiço.
No começo acreditei nas
ideias de um mundo melhor
Mais justo em oportunidades e
socialmente mais honesto
Repleto de boa vontade com o
próximo e também o distante
Equilibrado nas conquistas
filosóficas
Do bem viver sem sofrer até
morrer.
Os místicos acreditam na
necessidade da purificação
Os reacionários na barbárie
de homens impuros
Os revolucionários na
urgência da transformação
Os mercenários na força do
sistema financeiro
Os mercadores acreditam na
venda dos ícones gastos
Os guerreiros no sangue dos
insensatos
O nobre na dor dos inocentes
As donzelas no amor doente
Amei e fui amado por algumas
mulheres
Sem saber bem o que isso
significava
Vivi feliz por um tempo
Com uma ou com outra
Disse-me um dia meu pai pelo
espelho da sala
Como ele eu acreditei que
poderia amar
Mas o amor na humanidade é
uma mentira
Já dizia os anjos ao senhor
do engenho
Mastigando um torrão de
açúcar
Meleagro das matas nasceu da
semente
Macerada no elixir que
eterniza a vida
Cresceu e frutificou o grande
pomar
Tornou-se sumo sagrado do
desejo
A quem será oferecida a
grande homenagem dos deuses?
Ao solitário homem que vagueia
na planície do medo?
Ao que a ele está reservado
pela cálida mão da natureza?
A quem pertence ó pura fonte
de toda essa sabedoria?
AMIGO
Lendo suas
reflexões existenciais
entre o ser e o
saber ser de suas
muitas vezes
ocultas divagações orientais
nas entrelinhas
do caos deparo-me
quase sempre com
a imagem de Zaratrusta
navegando o mar de montanhas
tempestuosas, tal(o) qual
chinês de Macau
rebuscando ideogramas
da língua portuguesa
nos pensamentos filosóficos
modernos
a origem universal da criação
o limite do eterno
a mecânica quântica
o eterno limite
o espaço-tempo de nós mesmos
o buraco negro em que nos
metemos
atordoa-me pensar
por um só minuto si quer
qual dos textos que
escolherei.
Em verdade a todos admiro
Em todos me identifico
Todos me dizem respeito
Atingem como flecha
O coração.
Quanto ao leitor do amanhã
digo:
“Nem sempre regresso das
minhas viagens”
“O sonho é sempre uma sombra
da memória”
“No amor basta uma noite para
fazer de um homem um deus”
“Às vezes me sinto dentro do tempo e por fora do
mundo.”
“O tempo só existe para que tudo não aconteça ao mesmo tempo.”
“Enquanto o espaço existe para que tudo não aconteça com você ao mesmo
tempo”
- Em verdade escolheria
algumas de suas máximas e as colocaria como uma espécie de pintura em pânico a
maneira de Murilo Mendes ou Jorge de Lima em um texto-montagem de vasto valor.
VIVER
Estou aqui para contribuir e
nada mais do que isso. Uma vida inteira de contribuição.
Nunca pensei receber nada em
troca
Também nunca imaginei que
nada mesmo receberia.
Um velho amigo de tempo
cochicha com sua boca murcha com odor de mofo bem perto do meu rosto só para me
consolar a sua pérola máxima “Vai o homem e sua obra fica. E daí? Ela é eterna
me respondeu.” Pensei: consola-me saber que não sou o primeiro, mas não quero
ser o último, a saber que toda a contribuição de minha obra de nada valeu.
O trabalho de toda uma vida
que jamais será lembrado. Um vaticínio que em tudo contribui com a verdade.
Aqui estou. Nada mais que isso. Nada mais ouvi. Nenhuma contribuição. Nada
vale. Vim ver e morrer de tanto rir.
Paranoia
Estou sendo observado por pessoas
que não conheço... Eu falo e vocês não acreditam!...
Não sou paranoico! Só tenho uma mente criativa...
Eu sei.
Não sou paranoico! Só tenho uma mente criativa...
Eu sei.
Mas se vocês não acreditam
Então que se fodam todos!
Meninos! Eu vi e ouvi um deles gemer a noite quieta.
Os outros dançavam o silêncio.
Eram gnomos redondos como uma bola de futebol.
Todos faziam parte do império dos sentidos
onde loucura pouca é bobagem.
Meninos! Eu vi e ouvi um deles gemer a noite quieta.
Os outros dançavam o silêncio.
Eram gnomos redondos como uma bola de futebol.
Todos faziam parte do império dos sentidos
onde loucura pouca é bobagem.
CARAÇA
Poeiras
de luzes
Brilham além
Aquém do silêncio infinito.
Nesta matéria fina
Acorda o poeta
O sonho se finda
De resto à vida.
Clara noite.
Lua cheia.
Deserto.
Silêncio.
Brilham além
Aquém do silêncio infinito.
Nesta matéria fina
Acorda o poeta
O sonho se finda
De resto à vida.
Clara noite.
Lua cheia.
Deserto.
Silêncio.
Nada
se move.
Nada está vivo.
Nas areias prateadas pela luz
Há sombras nas carcaças
Soterradas.
Há sombras nas carcaças
Soterradas.
Fechando
o Ciclo
Quero morrer na Grécia
Falar com Homero de Ilíada e Odisseia
Falar com Homero de Ilíada e Odisseia
Discutir com Heródoto sobre o Egito que ele visitou.
Ouvir os poemas de Anacreonte.
Defender os sofistas, beber com Aristóteles, brigar com Platão, comer no
seu banquete e passear com Sócrates.
Viajar pelo tempo e voltar a Roma.
Buscar a natureza das coisas
Lucrecio, Catulo e Virgílio
Depois do silêncio obscurantista quero estar aqui ao lado de Dante e sua divina, com Bocaccio e Petrarca.
Lucrecio, Catulo e Virgílio
Depois do silêncio obscurantista quero estar aqui ao lado de Dante e sua divina, com Bocaccio e Petrarca.
Atravessar os
oceanos com Camões.
Visitar na velha ilha de Shakespeare
Cavalgar com Cervantes por
Andaluzia
Dominar Castela, salvar Montaigne.
Dominar Castela, salvar Montaigne.
Elevar-me as máximas alturas
E do alto, do inatingível,contemplar
Done, Sousândrade e Vieira, o novo mundo.
E do alto, do inatingível,contemplar
Done, Sousândrade e Vieira, o novo mundo.
Mas antes passear por Paris com Molière
Satirizando o avarento e o burguês religioso
Encontrar em um café Diderot, Voltaire, Russeau e em outra mesa Arthur Rimbaud e Charles Baudelaire.
Satirizando o avarento e o burguês religioso
Encontrar em um café Diderot, Voltaire, Russeau e em outra mesa Arthur Rimbaud e Charles Baudelaire.
Filosofar navegando pelo etéreo ao lado de Willian
Blake. Lendo Poe, Leopardi, Garrett, Flaubert, Dostoievski, Tolstoi
Marx e de binóculos ver o mundo e todas
as suas contradições.
Passando por Portugal visitar Cesário Verde, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa e Thomaz
Cabreira tomando ginjinha
Esbanjando talento para tudo saber.
Ir ao Brasil de Machado de Assis e Aluísio de Azevedo
Esbanjando talento para tudo saber.
Ir ao Brasil de Machado de Assis e Aluísio de Azevedo
Voltar ao alto e
rondar a noite do século passado e se abraçar a Joyce, Kafka, Faulkner,
Maiakovski.
Retornar ao realismo histórico e reatar a revolução
perdida de Lenine, Trotski, Oswald de
Andrade, Sartre e Camus.
Achar os livros vermelhos de Mao.
Achar os livros vermelhos de Mao.
A quem mais devo encontrar antes de atingir o caos,
ao nada? Ginsberg, Kerouac, Nietsche,
Borges, Cortázar, Fuentes, Augusto e os Anjos, Murilo Mendes, Cendras, Marlamé, Verlaine,
Drumond, Artaud, se todos eles estavam ali prosando pelos jardins do éden.
Mas foi Darcy quem me deu o Cascudo para não ficar
nesta loucura - Se houver no mundo a oportunidade cíclica de uma Nova Grécia,
Platão em Atlântida, é aqui, neste continente, que ela vai existir.
Heureca! Este é o lugar! Tenho certeza, não vou mentir, pois aqui
encontrarei os poetas mais uma vez nas festas de então.
Nas ilhas do continente, tomado pelo mar em fúria, varrendo
as areias e sacudindo o monte santo, é onde ele vira sertão.
CULTURA POPULAR
Sertão
Canudos
pré-história
Memória quase
morta
por de sol sobre
buritis
neste fundo de
ravina
guardado O quase
secreto
corre o enorme
rio
sertanejo e
baldio
velho chico
riobaldo
profundamente
brasileiro
já são poucos os
que se LEMBRAM
talvez a última
geração
assim cada
violeiro
cada velho
contador de casos LIGEIROS
que morrendo
é como se uma
biblioteca inteira se perdendo
num incêndio ATÔNITO
dE morte
Santo guerreiro
do sertão
VeLHo lago do
sobradinho
ONDE alguns
telhados
aparecem à flor
da água
Ao lado da
capela da CANCELA
no que sobrou da
cidade
MARIA SANTÍSSIMA
RAINHA CELESTE
PELO VOSSO BENTO
FILHO
LIVRAI-NOS DA
PESTE
QUEBRANTO
Esta
primeira é PARA TIRAR QUEBRANTO
digna de
um guimarães ou um joyce
“SUZANA
SUA MÃE LE TEVE, SUA MÃE LE há DE CRIÁ,QUEM QUEBRANTO LE POIS, EU TIRO, COM UM,
COM DOIS, COM TRÊS, EI DE TIRÁ, O QUEBRANTO E MAU OLHADO, E A MININA FICA
SARADO.
MINHA MÃE
NOSSA SENHORA,
ARES
QUENTE, ARES FRIO
ARES DE
VENTO, ARES DE ARRENEGO
QUE SE
QUEBRE TODOS OS QUEBRANTOs.”
E outras
quizumbas MAIS...
CEM ANOS
1900
1900
O século foi e será
Um século de adivinhadores
Um século oculto
Um século de prosa
Poético e cósmico
Sorrateiro infiel
Um século Dada
Um século isto
Ismo e aquilo
Um século capital
Nem liberal
Nem libertário
Ditatorial
No geral formal
Um século de medo
De infâmia
Um século literário
Cinematográfico
Maldito e desafiador
Um século às vezes revolucionário
Principalmente na arte do saber
Um século experimental
Explode o indivíduo
Despedaça o homem
Retorna-se a gênese
Começa-se de novo
Descobre-se a verdade
Desnuda-se o amanhã
Um século de palavras
Um século de milhões
Um século cristão
Seremos lembrados
Queiram vocês ou não
Um século oculto
Um século de prosa
Poético e cósmico
Sorrateiro infiel
Um século Dada
Um século isto
Ismo e aquilo
Um século capital
Nem liberal
Nem libertário
Ditatorial
No geral formal
Um século de medo
De infâmia
Um século literário
Cinematográfico
Maldito e desafiador
Um século às vezes revolucionário
Principalmente na arte do saber
Um século experimental
Explode o indivíduo
Despedaça o homem
Retorna-se a gênese
Começa-se de novo
Descobre-se a verdade
Desnuda-se o amanhã
Um século de palavras
Um século de milhões
Um século cristão
Seremos lembrados
Queiram vocês ou não
O filme que não se
acaba...
O tempo amigo passa e rápido
mas sua presença é eterna
em nossos grandes momentos
e tivemos muitos deles
Eu e você particularmente
estamos ‘INSIDE’ na voz do Brasil
A loucura sempre rondou a nossa porta
a porta cinematográfica de nossas vidas
O cinema Pirajá em noite de chuva
Tempestade das almas
Raios impetuosos impressos
em celuloide revolucionária
Corpos e corações distantes
Nunca perdidos e muito menos malditos.
A história sempre está ao nosso favor
os ventos é que são às vezes contra
Vai meu amigo
Segue o seu caminho envelhecido
tal qual vinho de incomparável sabor
A Baco reverencio a sua memória
Aos Deuses o seu amor.
O tempo amigo passa e rápido
mas sua presença é eterna
em nossos grandes momentos
e tivemos muitos deles
Eu e você particularmente
estamos ‘INSIDE’ na voz do Brasil
A loucura sempre rondou a nossa porta
a porta cinematográfica de nossas vidas
O cinema Pirajá em noite de chuva
Tempestade das almas
Raios impetuosos impressos
em celuloide revolucionária
Corpos e corações distantes
Nunca perdidos e muito menos malditos.
A história sempre está ao nosso favor
os ventos é que são às vezes contra
Vai meu amigo
Segue o seu caminho envelhecido
tal qual vinho de incomparável sabor
A Baco reverencio a sua memória
Aos Deuses o seu amor.
Liberdade e Cordialidade
Sombras de luzes difusas
Arquitetando sonhos
Acordando o dia\
Sucumbindo o ontem
Mandrágora de um só destino
Nuvens no céu de cobre
Cata-vento de areia solta
Lagoa de sol e sal
Magia que vem de longe
Dos confins do Himalaia
Bode velho enterrado
Cobiça dos incautos
A cordialidade brasileira
Subiu as montanhas
Cortou o leito dos rios
Desceu pelo mar
A Terra salgou
São tão poucos hoje
Os homens cordiais
Um deserto de maldades
De iniquidades e safadezas
A casa está cheia
A água está suja
O perverso predomina
Em cada esquina um
desesperado
Um despreparado comanda o
show
Uma barata atravessa a nado o
canal
Um jet –set passa em
disparada
A história é cíclica e está
inteira no presente
O mar nunca mais vai se abrir
para Moisés
A terra prometida estará
perdida sem a cordialidade
Um carro de som explode num
reclame de quinta
Um passante implica com o
cigarro
Uma moto escarra a sua
descarga aberta
Aumenta-se o som da tevê que
não se vê
Ninguém mais fala todo mundo
grita
O som de uma pequena cidade
pode enlouquecer
Pode ser cruel aos ouvidos
mais sensíveis
Quebrar uma vidraça ou matar
um passarinho
O homem cordial está preso na
gaiola
Liberdade é o diáfano de todo
o conhecimento
É a substância de
cordialidade entre os semelhantes
É o respeito do adversário
pela força da verdade
É a natureza resgatada em sua
exuberância
Liberdade e Cordialidade são
as palavras chaves
Erva de caboclo para o ano do
dragão chinês
Exorcismo de maldades em
pescoço de galinha
Engolidor de sapos dos bares
da vida
O homem caiçara cordial
Precisa se encontrar
Mudar a dinâmica do arraial
Onde ainda se encontra a
cidade
Clarear as mentes e as águas
poluídas
Escolher o bom e inexorável
caminho
Dar dois passos à frente e
abraçar a vida
Ou se deixar enganar mais uma
vez
Reflita com o sol e a
liberdade
Abandone a ausência de
clareza
De limpidez e de
perceptibilidade
Afaste-se do obscurantismo e
da tormenta
Seja um novo homem
Livre num mundo melhor
Seja cordial
Seja feliz
Confissão
Posso ser morto
tenho grande dívida com o sistema
não posso pagar
assim vou morrer de fome
fome de desejos novos
nos dejetos recolhidos no lixo
há fome na tevê
nos despejos
do artista sem ter onde morar
na família ressentida perdida
na praça ou debaixo da ponte
há fome mesmo
nas lavouras abandonadas
nas matas e nas queimadas
nos cenários das cidades esquecidas
há fome nos fornos de carvão
há crianças perdidas numa montanha de fezes
pintadas de preto
tornando-se polibandidos
massacrados inocentes aflitos
neófitos de mentes arrasadas
há fome de tudo quanto o choro
de todos derramado pela fome da vida
possamos ter ou seja quase nada
quando sabemos que muitos vivem muito bem
conservados nas distantes tradições oligárquicas
com seus bens absurdos e de mal gosto
cercados por um batalhão de escravos mal pagos
brancos índios negros e mestiços pouco importa
que comem de segunda a segunda
o resto desta industria suculenta
feijoadas e sangrentos churrascos
plebe ignara e arrependida desejando ser burguês
robôs que vagam nos diversos níveis do tempo eterno
nos labirintos palacianos e nas cachoeiras de serpentes
mundo que cai no lamaçal do seu espaço-tempo
remexendo a informação
dirigida aos débeis mentais
todos jornais e todas as mídias
mentem com a verdade dos fatos
maldosamente mentem
a favor do cruel capital
o maioral do norte
dando o troco para o otário de plantão
dementes nas primeiras flores do capital
nos juros invariavelmente mente até a morte
imenso e insano continente
ganância e dívida que não posso pagar
amém!
Matéria Inséctil
De tempo em tempo
De páginas em páginas
Dos contos aos cantos
Das sombras as sombras
Só espero a partida que vem.
Esta luz de néon invade o cosmo
vinda do fundo de um cabaré.
Na minha alma um sonho
um átomo , um corpo estranho
tamanha luz , incêndio que não é.
Estranha entranha de caminho róseo
ideário vermelho a procura de ação
que insistentemente e sem nenhum propósito
rouba da escuridão o insólito ar do meu pulmão
Desejo insone do meu quarto chorinho.
Declamo tristes trovas de paixão e ódio
Lutando para não transformar em negócio
O resto da luz em matéria
É que o seu amor me conduz
entre a paz e a guerra
No princípio o caminho da artéria
e no fim o martírio da cruz
Luto o luto torto no contra mão da glória
Enigmas de um pobre poeta maluco
Preso no cipoal da história
Eu sei que te constrange o sopro do meu coração
Por esse seu sexo molhado quente tenho tesão
Gosto infinitamente de te passar a mão
Lavo minha língua solta nos seus ouvidos
Afasta-me aos gritos de horror
Palavras de dor e de prazer...
Minha língua fala e isto te assusta
Consola-me Amor
Tu tens um furor de menina
Tara animal ser uterina
Sem sexo sem nexo
Sou seu menino
Lambuzando-me em você.
Oh! Pode ser que eu me acabe
No batuque e na mandinga
No choro de uma cuíca dentro do trem da Central
No Brasil cineral...
No soluço de uma fêmea agasalhando o meu todo
Isto não é normal! É animal!
O grito do zagueiro no ritmo imortal de uma pelada
Um samba afina o cortejo que passa vai e volta mal
Uma entoada marchinha de meninas sacanas e abusadas
Tudo isso é carnaval!
No meio do povo o gringo trôpego penetra com
alma vadia o corpo da morena brejeira deixando
o bravo guerreiro explodir
nos sentimentos e na porra
de um mundo velho
repleto de fodas livres.
Que esta felina maldita
logo queira ao som de um grito
o fogo de graves e agudos
grunhido no tempo infinito
a música universal
súbitos sussurros
cai de novo de quatro
o animal em seu louvor
gesticulando o meu apêndice expele
navegando por gotas d`água
o gozo na perna esperma
aflito de vida bandida.
Apocalíptica
No final do tempo
é o passar das horas
é o renascimento
é o romper da aurora...
O mundo ficou louco
e eu estou aqui
não faz meia hora
o meu amor foi embora
sem se despedir
De dia faz frio
a noite está quente
não há quem aguente
me dá arrepio
eu viro vampiro
não consigo dormir
Peguei o meu carro
sai por ai
e vejo nas ruas
moleques
mendigos
e não acredito
naquilo que eu vi
Outro monstrengo
de cara metade
mulher e macaco
num corpo de aço
que brilha na noite
de cara peluda
comendo um pedinte
matando uma puta
Chutando o meu carro
eu tento arrancar
quebra-me os vidros
morde-me o pescoço
esmurro-lhe a cara
pra me afastar
e dar sumiço
ou ficar louco
Abro a porta
empurro o trouxa
arranco em disparada
voltando pra casa
é no que eu penso
mas me perco
na estrada
Já não sei como voltar
a cidade é outra
o país é outro
meus amigos morreram
de sexo e de prazer
sinto falta dela
e de você
A velocidade me faz sonhar
paro cansado na esquina
de uma rua deserta
onde vejo um labirinto
e um infinito mar
onde o sol desponta
triste no horizonte interestelar
Penso então que foi um sonho
tudo aquilo que passei
atrás daquela menina
já faz mais de muitas horas
que estou só nesta esquina
Vivo este sonho pensei
é muito mais do que real
mais que o sol despertando
é a descoberta da verdade
estando vivo por meios
e modos estranhos
A maldade da mãe natureza
mais espantado me deixa
de longe e não sei onde
um vento forte e bravio
esconde a luz distante
trazendo o medo e o frio
A natureza da maldade
raios e tempestade no céu
grande onda de terror
num confronto apocalíptico
milhões de homens aflitos
perdidos sem direção
invadem as grandes cidades
meio corpo meia cara
anjos de fogo
velas de santo
espadas no coração.
Sinto então que é a hora
de sair com a multidão
como tantos milhões
por todo mundo de tantos
por todas as ruas e becos
em cada esquina
buscando a bandeira
desta nova sina
Que surge na tormenta
da dor pungente
da separação
da gênese
do ponto infinito
da criação.
No final do tempo
é o passar das horas
é o renascimento
é o romper da aurora...
O mundo ficou louco
e eu estou aqui
não faz meia hora
o meu amor foi embora
sem se despedir
De dia faz frio
a noite está quente
não há quem aguente
me dá arrepio
eu viro vampiro
não consigo dormir
Peguei o meu carro
sai por ai
e vejo nas ruas
moleques
mendigos
e não acredito
naquilo que eu vi
Outro monstrengo
de cara metade
mulher e macaco
num corpo de aço
que brilha na noite
de cara peluda
comendo um pedinte
matando uma puta
Chutando o meu carro
eu tento arrancar
quebra-me os vidros
morde-me o pescoço
esmurro-lhe a cara
pra me afastar
e dar sumiço
ou ficar louco
Abro a porta
empurro o trouxa
arranco em disparada
voltando pra casa
é no que eu penso
mas me perco
na estrada
Já não sei como voltar
a cidade é outra
o país é outro
meus amigos morreram
de sexo e de prazer
sinto falta dela
e de você
A velocidade me faz sonhar
paro cansado na esquina
de uma rua deserta
onde vejo um labirinto
e um infinito mar
onde o sol desponta
triste no horizonte interestelar
Penso então que foi um sonho
tudo aquilo que passei
atrás daquela menina
já faz mais de muitas horas
que estou só nesta esquina
Vivo este sonho pensei
é muito mais do que real
mais que o sol despertando
é a descoberta da verdade
estando vivo por meios
e modos estranhos
A maldade da mãe natureza
mais espantado me deixa
de longe e não sei onde
um vento forte e bravio
esconde a luz distante
trazendo o medo e o frio
A natureza da maldade
raios e tempestade no céu
grande onda de terror
num confronto apocalíptico
milhões de homens aflitos
perdidos sem direção
invadem as grandes cidades
meio corpo meia cara
anjos de fogo
velas de santo
espadas no coração.
Sinto então que é a hora
de sair com a multidão
como tantos milhões
por todo mundo de tantos
por todas as ruas e becos
em cada esquina
buscando a bandeira
desta nova sina
Que surge na tormenta
da dor pungente
da separação
da gênese
do ponto infinito
da criação.
VIAJAR
Sol vermelho
Céu azul
Nuvens negras
Buracos de tempestades
Vento forte
Mar de pedra Batida
Terra à vista!
No espaço
Viaja...
Céu azul
Nuvens negras
Buracos de tempestades
Vento forte
Mar de pedra Batida
Terra à vista!
No espaço
Viaja...
SOMBRAS
A Pedra projeta
A Sombra universal.
Após o tempo visto
Onde a poesia é escrita
extirpa a cripta escura
brilha a morte.
Cego – grita - grifa
Aflita busca.
Decifra - enigma
Estrelas explicitam as horas...
Aflita busca.
Decifra - enigma
Estrelas explicitam as horas...
Poeiras de luzes
Brilham além
Brilham além
AQUÉM DO SILÊNCIO
Solidão
Nesta matéria fina
Acorda o poeta
O sonho se finda
De resto à vida.
LUA CHEIA
Clara noite.
Lua cheia.
Deserto.
Silêncio.
Nada se move.
Nada está vivo.
Nas areias (prateadas pela luz)
Há sombras (nas carcaças)
Soterradas
Lua cheia.
Deserto.
Silêncio.
Nada se move.
Nada está vivo.
Nas areias (prateadas pela luz)
Há sombras (nas carcaças)
Soterradas
ESTRELAS
Nada no bar.
medra a luz
infinda.
nos destroços
de papos furados
as rimas
estrofes temperadas
por um zé ninguém
do reich.
Será assim que se escreve?
Dito alto até parece!
Mas será ?
Todos querem saber
não sei responder
Só sei ser
sem ser
eis a questão
racional
Sem saber de você
todos nós somos
Brasil pois é
árvore dura
de roer
podemos e fudemos
na terra fofa
Não há quem não sabe!
Quem sois Enigmas
Projeções esferas
Feras findas
Estrelas
Serão íntimas
mulheres
de um mesmo mundo
de um mesmo sonho
de todos...
os nossos sonhos coletivos
Ônibus de poucos passageiros
seres vivos
de um bar qualquer
sombras mortas
procurando
um outro bar
um outro copo
talvez...
Oh! Ilustres estrangeiros
não me importa
para o mundo inteiro
ser neste quintal
das américas
o ser verdadeiro
ou
o que não se viu
ser ainda
por alguns minutos
menino
no tempo
O senhor da razão
do pião e do iô iô
sol e lua
noite e dia,
sim ou não
em mil algarismo
o único silogismo
o maniqueísmo
chauvinista
desta questão.
É ele que me passou
muitas vezes desapercebido
me fez ver você
encontrar
sem saber
fazer o que
ou ser simplesmente ser
quem sou
Linda mulher
que me ama
me lambuza
na cama.
Fontes dos amores
me encante
com tamanha nobreza
oh! natureza
dos meus sonhos!
Eis o porvir
das ambrósias
dos deuses neuróticos
sucedâneos da humanidade
e do tempo!
Também
será que tem alguém
que pudesse desejar
bem ali distante
uma caverna
adiante?
O que a vida
deseja e tece
umedece
debalde
o amor?
medra a luz
infinda.
nos destroços
de papos furados
as rimas
estrofes temperadas
por um zé ninguém
do reich.
Será assim que se escreve?
Dito alto até parece!
Mas será ?
Todos querem saber
não sei responder
Só sei ser
sem ser
eis a questão
racional
Sem saber de você
todos nós somos
Brasil pois é
árvore dura
de roer
podemos e fudemos
na terra fofa
Não há quem não sabe!
Quem sois Enigmas
Projeções esferas
Feras findas
Estrelas
Serão íntimas
mulheres
de um mesmo mundo
de um mesmo sonho
de todos...
os nossos sonhos coletivos
Ônibus de poucos passageiros
seres vivos
de um bar qualquer
sombras mortas
procurando
um outro bar
um outro copo
talvez...
Oh! Ilustres estrangeiros
não me importa
para o mundo inteiro
ser neste quintal
das américas
o ser verdadeiro
ou
o que não se viu
ser ainda
por alguns minutos
menino
no tempo
O senhor da razão
do pião e do iô iô
sol e lua
noite e dia,
sim ou não
em mil algarismo
o único silogismo
o maniqueísmo
chauvinista
desta questão.
É ele que me passou
muitas vezes desapercebido
me fez ver você
encontrar
sem saber
fazer o que
ou ser simplesmente ser
quem sou
Linda mulher
que me ama
me lambuza
na cama.
Fontes dos amores
me encante
com tamanha nobreza
oh! natureza
dos meus sonhos!
Eis o porvir
das ambrósias
dos deuses neuróticos
sucedâneos da humanidade
e do tempo!
Também
será que tem alguém
que pudesse desejar
bem ali distante
uma caverna
adiante?
O que a vida
deseja e tece
umedece
debalde
o amor?
Quem sempre foi
quem sempre existiu
no infinito dele mesmo?
Tornou-se pó
presente e coeso
na simples troca do olhar
onde o todo
o que é mais
se refaz
do mundo maior
do mar indômito
do vômito
do verbo
ver
Nada se compara
a linha
do horizonte
lá longe
nua e crua
Como você
e sinto
não minto
que lá no bar
Absinto
A tocar
esta sonata
desafino
meus instrumentos
meus olhos
mas afino
meu olfato
meu sexto sentido
passando-lhe
a verba
vejo-te
linda
paixão
mistério
do medo
de me ver ridículo
de antemão
no ensejo
de só tê-la então
nas minhas duas mãos
dentro dos meus dez dedos
infinitamente cobiçá-los
nos seus desejos
nos meus desejos
vejo-os.
quem sempre existiu
no infinito dele mesmo?
Tornou-se pó
presente e coeso
na simples troca do olhar
onde o todo
o que é mais
se refaz
do mundo maior
do mar indômito
do vômito
do verbo
ver
Nada se compara
a linha
do horizonte
lá longe
nua e crua
Como você
e sinto
não minto
que lá no bar
Absinto
A tocar
esta sonata
desafino
meus instrumentos
meus olhos
mas afino
meu olfato
meu sexto sentido
passando-lhe
a verba
vejo-te
linda
paixão
mistério
do medo
de me ver ridículo
de antemão
no ensejo
de só tê-la então
nas minhas duas mãos
dentro dos meus dez dedos
infinitamente cobiçá-los
nos seus desejos
nos meus desejos
vejo-os.
Última Morada
Esse é o lugar
onde o homem
deixa-se vencer.
Onde a luz
substitui o sol
Esse é o lugar
onde o homem
deixa-se vencer.
Onde a luz
substitui o sol
Onde a lua
mostra a face oculta.
mostra a face oculta.
Onde o vento faz a curva
e o anjo louco escuta
o cantar do rouxinol.
Este é o lugar!
Do santo guerreiro
onde o barco corta
o rio caudaloso
de águas escuras
soltas no espaço
perdidas no tempo.
Lugar...
D´alma que canta
na voz do silêncio
onde o nada importa
provoca desconsolo
desfaz-se da jura
morre-se de medo
Foi nesse lugar...
Nesse templo do esquecer
onde guardei o segredo
do meu terrível desterro
quando me perdi
com um certo olhar
abrupto, desmedido.
Marquei esse lugar!
e o anjo louco escuta
o cantar do rouxinol.
Este é o lugar!
Do santo guerreiro
onde o barco corta
o rio caudaloso
de águas escuras
soltas no espaço
perdidas no tempo.
Lugar...
D´alma que canta
na voz do silêncio
onde o nada importa
provoca desconsolo
desfaz-se da jura
morre-se de medo
Foi nesse lugar...
Nesse templo do esquecer
onde guardei o segredo
do meu terrível desterro
quando me perdi
com um certo olhar
abrupto, desmedido.
Marquei esse lugar!
Incrível abismo
de um buraco negro
Aqui
toma-se o sagrado absinto
à mesa dos amigos
para ver
ter visões
sofrer
no caminho aflito,
no lugar esquisito, findo,
onde o infinito medra.
Pois é nesse lugar maldito
que se inicia sem medo
difusa e pulsante
ao mesmo tempo
em todos os lugares
o mito bendito da vida
Agora diferente
da trama
já conhecida
Memória viva
drama
de um buraco negro
Aqui
toma-se o sagrado absinto
à mesa dos amigos
para ver
ter visões
sofrer
no caminho aflito,
no lugar esquisito, findo,
onde o infinito medra.
Pois é nesse lugar maldito
que se inicia sem medo
difusa e pulsante
ao mesmo tempo
em todos os lugares
o mito bendito da vida
Agora diferente
da trama
já conhecida
Memória viva
drama
espaço
sem tempo
para acabar.
sem tempo
para acabar.
No longínquo 1500
onde ode aves raras clamam sobre o manto negro da paixão.
A noite infindável. A seara. O Saara.
O descobrimento. A primeira invasão.
A primeira explosão.
O paraíso é invadido barbaramente
pelos portugueses, tal qual os espanhóis,
queimando, mutilando, destruindo,
dividindo as mulheres ao meio
com o facão afiado no corte vaginal.
Varando a terra sagrada
cobrindo-a de sangue
os anjos tocam suas trombetas
entre os índios
batendo borduna contra a cruz.
Anchieta e Vieira
A língua mãe nheengatu se encontrava com o latim
e suas poderosas vozes.
Invadimos a mata dos gigantes adormecidos
Imenso é o silêncio quando falam.
O Manifesto de Jurema
Pai velho e moça nova
Sincretismo de padre.
Todos se envolvem no elixir do pajé
Uma bela e jovem índia de corpo moreno
pintado de urucu passa e encanta o aventureiro
civilizado vestido da cabeça aos pés.
Na casa do caboclo bebendo água de coco
Pedro caminha e depois levita.
No ar uma fé terçã
O brasileiro das matas
Yapacam
A nação dos ventos
onde ode aves raras clamam sobre o manto negro da paixão.
A noite infindável. A seara. O Saara.
O descobrimento. A primeira invasão.
A primeira explosão.
O paraíso é invadido barbaramente
pelos portugueses, tal qual os espanhóis,
queimando, mutilando, destruindo,
dividindo as mulheres ao meio
com o facão afiado no corte vaginal.
Varando a terra sagrada
cobrindo-a de sangue
os anjos tocam suas trombetas
entre os índios
batendo borduna contra a cruz.
Anchieta e Vieira
A língua mãe nheengatu se encontrava com o latim
e suas poderosas vozes.
Invadimos a mata dos gigantes adormecidos
Imenso é o silêncio quando falam.
O Manifesto de Jurema
Pai velho e moça nova
Sincretismo de padre.
Todos se envolvem no elixir do pajé
Uma bela e jovem índia de corpo moreno
pintado de urucu passa e encanta o aventureiro
civilizado vestido da cabeça aos pés.
Na casa do caboclo bebendo água de coco
Pedro caminha e depois levita.
No ar uma fé terçã
O brasileiro das matas
Yapacam
A nação dos ventos
Tapirapé.
Na noite brilham as estrelas
Os pássaros nas árvores
O silêncio
O breve e poderoso silêncio dos ventos
espanta na gávea o mágico observador
em pânico.
No alto barco do descobrimento
A terra é vista da linda ilha de Santa Cruz
0 duro pau brasil e o velho Cabral.
Perdidos na praia
No paraíso do continente dos trópicos.
Nas roupas coloridas do seu colonizador
Nos ricos índios nus com suas vergonhas
expostas tal qual malandro mirando o céu azul
cavalgando com as miçanga e seus brilhos
fazem a troca dos ladrões conquistadores
Em Itacuruçá a pemba vale à pena
Os riscos cabalísticos do caboclo na areia.
O Pegi e as coisas secretas
trazidas pelos negros enterradas
no quintal à sombra do cajazeiro
Do alto de uma paineira todo terreiro
perde-se na mata onde se encontra.
Os tambores batidos com os cachimbos tortos
Na Rua São Pantaleão dos encantados no Maranhão.
Mata, Ramos, Lund, Stradelli, Niemandaju, Nunes.
Estrangeiro amigo, macuco ferido,
perdido morto no igarapé do pós guerra
Flechado pela antropofagia branca
Pelo desentendimento cultural do
Bispo Sardinha até a segunda grande guerra.
As sete cidades irão inflamar a pré-história universal.
Já não bastassem as escritas do alto amazonas
todas cuneiformes contando e cantando a mitologia
grega nas viagens de Ulisses determinadas por uma
língua que ainda permanece em silêncio magistral
escondida no remo mágico dos Maués
interiorizada no noquén das mulheres guerreiras.
O Eldorado amazônico é o Brasil
Na mão da história o destino dos deuses
Na chapada do Espinhaço o diamantino
O mais fino dos homens.
Guimarães, Minas não há mais
No mar, só o ar do deserto
Chagas das montanhas
Na luz e na sombra da noite.
Fostes ontem Lua hoje é Marte no céu.
Na terra a morte do tijuco é contada
O sertanejo é um forte, fonte do saber
enterrado nos tesouros dos Rosas.
Nas grimpas do norte e do nordeste
Há inscrições desconhecidas em misteriosas cavernas
Nas cidades do ouro perdida nas matas
Mataram e sumiram com muitos aventureiros.
Há uma alma forte em negras aflitas
No forte Mina imprime-se e exporta-se
A fera África - A cultura moura
A terra arábica da guerreira imutável.
Do Ceará ao Saara
A divisão atlântica dos sonhos
O chorinho é o bálsamo dos trópicos.
Nas praias infernais e mediterrâneas
Parreiras antigas dos cânticos cobrem
O colosso de Rodes em ruínas
Onde estão os poetas de outrora?
Lusíadas e o céu de Alá
Quando se achará?
Os quinhentos anos já chegaram e você
escravo permanece cego
Entre tamanha terra de infindáveis riquezas
e inúmeros prazeres
O tabu dos jesuítas encantados
com as infindáveis festas de valor religioso e duvidoso
nunca imaginadas pelos europeus deslumbrados
com tamanha fé se vê bem e o mal
o seu ver é sofrer o nosso é gozar
carnaval-salada oculta de todas as poesias
Pessoa é Portugal que Sá Carneiro
em mil e quinhentas lutas.
desfraldou Cabrália na Cruz desfeita
Fez o cardeal a inquisição
Belém, Belém, batem os sinos
Os autos contra o guerreiro
tocam badaladas de horror
nos sinos da matriz.
As duras penas o sonho branco da riqueza fácil
É a cachaça dos engenhos, dos negros,
dos pesadelos indígenas.
No fim das mangueiras e das madrugadas frias
Só resta o terreiro de macumba
Os ratos no deserto
A praça da Paz da zona sul
O mangueiral colorido de verde e rosa
o vermelho estendido e entendido no varal da história
Deixa-me perplexo pensar agora se há glória na glória
de ser colonizador.
Chama-se Brasil o mênade menestrel das desgraças
geométricas de um povo latino americano sem nenhuma história.
Para cada começo sempre existirá um fim.
Nenhuma sombra há de apagar a luz de uma vela.
Poucos papagaios e muitas piranhas nas matas e rios.
Eu tenho vinte anos e não exerci ainda a minha cidadania
Sobra de tudo aqui, pois aqui tudo se dá
Os portugueses nos ensinaram
Goiabada industrial é banana com chuchu
A cachaça e a tiquira
Só é saborosa com caju
O guaraná na mata dos Maués
pinga de mandioca brava com biju
Feijão com angu, sururu, umbu com leite
talha, coalha, espalha energia de um povo
Para o mundo
Para o deleite ufanista do conquistador.
Terra a vista! É o Brasil! Ora pois...
Na noite brilham as estrelas
Os pássaros nas árvores
O silêncio
O breve e poderoso silêncio dos ventos
espanta na gávea o mágico observador
em pânico.
No alto barco do descobrimento
A terra é vista da linda ilha de Santa Cruz
0 duro pau brasil e o velho Cabral.
Perdidos na praia
No paraíso do continente dos trópicos.
Nas roupas coloridas do seu colonizador
Nos ricos índios nus com suas vergonhas
expostas tal qual malandro mirando o céu azul
cavalgando com as miçanga e seus brilhos
fazem a troca dos ladrões conquistadores
Em Itacuruçá a pemba vale à pena
Os riscos cabalísticos do caboclo na areia.
O Pegi e as coisas secretas
trazidas pelos negros enterradas
no quintal à sombra do cajazeiro
Do alto de uma paineira todo terreiro
perde-se na mata onde se encontra.
Os tambores batidos com os cachimbos tortos
Na Rua São Pantaleão dos encantados no Maranhão.
Mata, Ramos, Lund, Stradelli, Niemandaju, Nunes.
Estrangeiro amigo, macuco ferido,
perdido morto no igarapé do pós guerra
Flechado pela antropofagia branca
Pelo desentendimento cultural do
Bispo Sardinha até a segunda grande guerra.
As sete cidades irão inflamar a pré-história universal.
Já não bastassem as escritas do alto amazonas
todas cuneiformes contando e cantando a mitologia
grega nas viagens de Ulisses determinadas por uma
língua que ainda permanece em silêncio magistral
escondida no remo mágico dos Maués
interiorizada no noquén das mulheres guerreiras.
O Eldorado amazônico é o Brasil
Na mão da história o destino dos deuses
Na chapada do Espinhaço o diamantino
O mais fino dos homens.
Guimarães, Minas não há mais
No mar, só o ar do deserto
Chagas das montanhas
Na luz e na sombra da noite.
Fostes ontem Lua hoje é Marte no céu.
Na terra a morte do tijuco é contada
O sertanejo é um forte, fonte do saber
enterrado nos tesouros dos Rosas.
Nas grimpas do norte e do nordeste
Há inscrições desconhecidas em misteriosas cavernas
Nas cidades do ouro perdida nas matas
Mataram e sumiram com muitos aventureiros.
Há uma alma forte em negras aflitas
No forte Mina imprime-se e exporta-se
A fera África - A cultura moura
A terra arábica da guerreira imutável.
Do Ceará ao Saara
A divisão atlântica dos sonhos
O chorinho é o bálsamo dos trópicos.
Nas praias infernais e mediterrâneas
Parreiras antigas dos cânticos cobrem
O colosso de Rodes em ruínas
Onde estão os poetas de outrora?
Lusíadas e o céu de Alá
Quando se achará?
Os quinhentos anos já chegaram e você
escravo permanece cego
Entre tamanha terra de infindáveis riquezas
e inúmeros prazeres
O tabu dos jesuítas encantados
com as infindáveis festas de valor religioso e duvidoso
nunca imaginadas pelos europeus deslumbrados
com tamanha fé se vê bem e o mal
o seu ver é sofrer o nosso é gozar
carnaval-salada oculta de todas as poesias
Pessoa é Portugal que Sá Carneiro
em mil e quinhentas lutas.
desfraldou Cabrália na Cruz desfeita
Fez o cardeal a inquisição
Belém, Belém, batem os sinos
Os autos contra o guerreiro
tocam badaladas de horror
nos sinos da matriz.
As duras penas o sonho branco da riqueza fácil
É a cachaça dos engenhos, dos negros,
dos pesadelos indígenas.
No fim das mangueiras e das madrugadas frias
Só resta o terreiro de macumba
Os ratos no deserto
A praça da Paz da zona sul
O mangueiral colorido de verde e rosa
o vermelho estendido e entendido no varal da história
Deixa-me perplexo pensar agora se há glória na glória
de ser colonizador.
Chama-se Brasil o mênade menestrel das desgraças
geométricas de um povo latino americano sem nenhuma história.
Para cada começo sempre existirá um fim.
Nenhuma sombra há de apagar a luz de uma vela.
Poucos papagaios e muitas piranhas nas matas e rios.
Eu tenho vinte anos e não exerci ainda a minha cidadania
Sobra de tudo aqui, pois aqui tudo se dá
Os portugueses nos ensinaram
Goiabada industrial é banana com chuchu
A cachaça e a tiquira
Só é saborosa com caju
O guaraná na mata dos Maués
pinga de mandioca brava com biju
Feijão com angu, sururu, umbu com leite
talha, coalha, espalha energia de um povo
Para o mundo
Para o deleite ufanista do conquistador.
Terra a vista! É o Brasil! Ora pois...
ESTOU CHEGANDO COM O VENTO
Vindo do teatro, do retiro, do convento
Carente, tarado, desprezado
Achego-me mais perto
Por amor deste momento
Procuro ser mais discreto
Se não é verdade, invento.
Estou chegando com o vento...
Invadindo o seu lar
Em aerodrama barato
Proponho ao sabor da arte
Este rimado bate-papo.
Estou chegando com o vento...
Vou-me embora pelo mar...
Telefona-me ainda hoje
Seja breve... Seja má!
Estou chegando com o vento...
Sem demora eu te peço
Você fala e eu aumento
Nada que impede o amanhã
Se eu mereço!
Estou chegando com o vento...
Sem por fim a quente noite
Ao interminável lero-lero
Aquele papo louco
Ou ao que eu sentia por ela
E ela sentia por outro
Estou chegando com o vento...
Ela é tudo que quero!
Mas ela não quer me amar...
Estou indo! Pega mole! Pega leve!
Se não posso te matar!
Vindo do teatro, do retiro, do convento
Carente, tarado, desprezado
Achego-me mais perto
Por amor deste momento
Procuro ser mais discreto
Se não é verdade, invento.
Estou chegando com o vento...
Invadindo o seu lar
Em aerodrama barato
Proponho ao sabor da arte
Este rimado bate-papo.
Estou chegando com o vento...
Vou-me embora pelo mar...
Telefona-me ainda hoje
Seja breve... Seja má!
Estou chegando com o vento...
Sem demora eu te peço
Você fala e eu aumento
Nada que impede o amanhã
Se eu mereço!
Estou chegando com o vento...
Sem por fim a quente noite
Ao interminável lero-lero
Aquele papo louco
Ou ao que eu sentia por ela
E ela sentia por outro
Estou chegando com o vento...
Ela é tudo que quero!
Mas ela não quer me amar...
Estou indo! Pega mole! Pega leve!
Se não posso te matar!
Se minha vida
nesse mundo idiota
medrasse alguns devaneios
agradar-me-ia a lorota
do amigo a dar conselhos
Ora, quem sabe o que sente
explode em vertentes
de águas sem fim
Mas, quem só sente o que sabe
sacode e invade o tédio infinito
que tens para mim
Por uma rebeldia sem ideologia!
Por uma juventude sem causa!
Por uma geração sem mácula!
Por um mundo sem medo!
nesse mundo idiota
medrasse alguns devaneios
agradar-me-ia a lorota
do amigo a dar conselhos
Ora, quem sabe o que sente
explode em vertentes
de águas sem fim
Mas, quem só sente o que sabe
sacode e invade o tédio infinito
que tens para mim
Por uma rebeldia sem ideologia!
Por uma juventude sem causa!
Por uma geração sem mácula!
Por um mundo sem medo!
Em Paris
Sonhava no meu sono a saudade
quando a luz o divino libertou.
Ora, quem vejo ?
Em um olho a verdade
e no outro, entreaberto, meu destino
minha metade
minha sina
minha dor.
Tomei-me de susto com tamanha glória
mil corpos nus enrolados em lã
embriagados na memória
numa predisposição malsã
repetiam num langor
um cigarro por favor
mais nicotina, mais maconha
mais cafeína, mais cocaína,
mais morfina, anfetamina e
o ópio em flor, uma vergonha!
A heroína deitada ficou
balbuciando em ouvidos surdos
cegos conceitos, falsos miúdos
e o nada refletido no espelho
d’alma foi o tudo que restou.
quando a luz o divino libertou.
Ora, quem vejo ?
Em um olho a verdade
e no outro, entreaberto, meu destino
minha metade
minha sina
minha dor.
Tomei-me de susto com tamanha glória
mil corpos nus enrolados em lã
embriagados na memória
numa predisposição malsã
repetiam num langor
um cigarro por favor
mais nicotina, mais maconha
mais cafeína, mais cocaína,
mais morfina, anfetamina e
o ópio em flor, uma vergonha!
A heroína deitada ficou
balbuciando em ouvidos surdos
cegos conceitos, falsos miúdos
e o nada refletido no espelho
d’alma foi o tudo que restou.
MAU E DITO
Maldita hora, maldita
existência, maldito desleixo
Maldito momento em que me levantei desta carinhosa almofada
Maldita existência, pueril e bárbara, acossada por migalhas
Malditos mil novecentos e sessenta e quatro
Não consigo deixar de lado, na memória, a hora hostil
Mas não me falta o prazer
Novamente, para sempre, quero ficar em casa com você...
Sobre o sofá me declino nas formas absolutas de seu corpo
Os espessos pêlos soltos na virilha valem as pernas roliças
nas penas do meu travesseiro onde me aconchego
Pêlos de ganso
Maldito momento em que me levantei desta carinhosa almofada
Maldita existência, pueril e bárbara, acossada por migalhas
Malditos mil novecentos e sessenta e quatro
Não consigo deixar de lado, na memória, a hora hostil
Mas não me falta o prazer
Novamente, para sempre, quero ficar em casa com você...
Sobre o sofá me declino nas formas absolutas de seu corpo
Os espessos pêlos soltos na virilha valem as pernas roliças
nas penas do meu travesseiro onde me aconchego
Pêlos de ganso
Brejeiro desejo molhando a
boca
Penso nobre: são os seus seios – devaneios?
Sinto o gosto no tato da língua na sede e no meio
Pelo seu amor, célula sedutora moldada em seda,ralo o meu sexo
Observando as paredes nuas, frias, brancas, magras de suas costas, indiferente a tudo e a todos
Penso nobre: são os seus seios – devaneios?
Sinto o gosto no tato da língua na sede e no meio
Pelo seu amor, célula sedutora moldada em seda,ralo o meu sexo
Observando as paredes nuas, frias, brancas, magras de suas costas, indiferente a tudo e a todos
Sou seu eu - abro o
fechoecler e desnudo o meu ser
Cada vez mais baixo resistente aranha vaga...
Solenemente perto da montanha senil ela me empurra no toalete das emoções - imaginações?
O sofá exalta-me o estilo
Perco o sentido satisfeito
Intranqüilo porém renovo o fluxo do ar nos meus pulmões vendo-a coberta de fumaça adiante passando com seu tortuoso traseiro enganando a porta estreita do chuveiro e balançando em cadentes deleite nos intervalos de água abundante o sabonete perfumado de lavanda no seu ventre ardente de cigana.
Entre um passo e outro aumentando firmemente o meu desejo sem a sua ausência vejo na súbita hora o supremo desleixo da história propondo à majestosa heróica e dura resistência um compromisso com a memória e outro com a consciência.
Cada vez mais baixo resistente aranha vaga...
Solenemente perto da montanha senil ela me empurra no toalete das emoções - imaginações?
O sofá exalta-me o estilo
Perco o sentido satisfeito
Intranqüilo porém renovo o fluxo do ar nos meus pulmões vendo-a coberta de fumaça adiante passando com seu tortuoso traseiro enganando a porta estreita do chuveiro e balançando em cadentes deleite nos intervalos de água abundante o sabonete perfumado de lavanda no seu ventre ardente de cigana.
Entre um passo e outro aumentando firmemente o meu desejo sem a sua ausência vejo na súbita hora o supremo desleixo da história propondo à majestosa heróica e dura resistência um compromisso com a memória e outro com a consciência.
BRASIL BARROCO
Ouro Preto, terra do ouro! Do barroco!
Da escravidão!
Da liberdade!
Da solidão...
Deste alto,
posso vê-la!
Velha Vila Rica!
300 anos passados
a ferro e fogo
Neste palco misterioso
se esconde em cada igreja, atrás de um santo, em cada beco, em cada rua, o símbolo tortuoso dos caminhos da liberdade
Aqui o barroco se projeta nas pedras talhadas em seus contorcidos desenhos
A espiral dança nas curvas... Gira o tempo veloz projetando círculos... Volúpia
sem limite!
Saudosa e sinuosa terra de colonizadores de ontem e de hoje onde os inventores do novo ver praticam longas caminhadas refletindo a vida, valorizando a arte...
A história livre dos absolutos!
Chegar lá em cima... Antes de lá chegar
Eu morro!
Tão longe...
Tão perto
Por essas pedras e ladeiras caminhamos livres valorizando a criação libertária de todas as obras
Revolucionários
Rebeldes
Amotinados
Camaradas
É preciso concentrar o olhar para se bem observar a vila afundada nas minas do ouro que não mais existem
Renascendo pela força da arte e do saber, vendo lentamente a neblina se dissipar, a vila mostrou-se, transformou-se em cidade, em capital. Foi abandonada e salvou-se
Marginal! Maldito! Solitário! Hermético!
Fora do sistema!
Só o que foi totalmente abandonado pode se salvar
Onde estão perdidos os personagens libertários de sua história? Morreram todos! Será preciso revelá-los novamente?
Ainda posso sentir o cheiro forte do sangue escorrendo nas íngremes e tortuosas ladeiras da velha vila rica barroca colonial brasileira.
Ouro Preto, sua história que foi forjada na luta libertária, fraterna, dos rebeldes de outrora, ainda não foi vencida
É preciso de total liberdade para se ver um pouco mais longe. Mas do que adianta a liberdade estando ela presa a roda do sistema?
O tempo contra o tempo arma-se de poesia e resistência.
O barroco refulge imutável na curva infinda do seu limite insondável
A boa história livre de todos os ranços do ouro...
Dos juros, infâmia, violência, ganância, fome, medo, miséria, soberba, ódio, vingança, fortuna, furto, trapaça, nada tenho a dizer...
Somos todos artistas.
Somos todos barrocos.
Somos brasileiros
Trabalhamos nos limites das formas
Criamos a beira do caos a gazua que abre as portas do saber e do prazer
Temos a certeza que existe um mundo melhor no nosso caminho
Saímos
De Ninguém
Para
Lugar Nenhum
O infinito é barroco
O universo é barroco
A terra é redonda
O céu é azul
No mundo Pequeno
Atômico
Barroco
Elétrons giram e bailam num frenesi
incontrolável
fora do tempo
Passado o presente Chegamos ao futuro
Vislumbramos o incomensurável amanhã
Redescobrindo a vida e seu caminho
Para sempre
Sem fim
Ouro Preto, terra do ouro! Do barroco!
Da escravidão!
Da liberdade!
Da solidão...
Deste alto,
posso vê-la!
Velha Vila Rica!
300 anos passados
a ferro e fogo
Neste palco misterioso
se esconde em cada igreja, atrás de um santo, em cada beco, em cada rua, o símbolo tortuoso dos caminhos da liberdade
Aqui o barroco se projeta nas pedras talhadas em seus contorcidos desenhos
A espiral dança nas curvas... Gira o tempo veloz projetando círculos... Volúpia
sem limite!
Saudosa e sinuosa terra de colonizadores de ontem e de hoje onde os inventores do novo ver praticam longas caminhadas refletindo a vida, valorizando a arte...
A história livre dos absolutos!
Chegar lá em cima... Antes de lá chegar
Eu morro!
Tão longe...
Tão perto
Por essas pedras e ladeiras caminhamos livres valorizando a criação libertária de todas as obras
Revolucionários
Rebeldes
Amotinados
Camaradas
É preciso concentrar o olhar para se bem observar a vila afundada nas minas do ouro que não mais existem
Renascendo pela força da arte e do saber, vendo lentamente a neblina se dissipar, a vila mostrou-se, transformou-se em cidade, em capital. Foi abandonada e salvou-se
Marginal! Maldito! Solitário! Hermético!
Fora do sistema!
Só o que foi totalmente abandonado pode se salvar
Onde estão perdidos os personagens libertários de sua história? Morreram todos! Será preciso revelá-los novamente?
Ainda posso sentir o cheiro forte do sangue escorrendo nas íngremes e tortuosas ladeiras da velha vila rica barroca colonial brasileira.
Ouro Preto, sua história que foi forjada na luta libertária, fraterna, dos rebeldes de outrora, ainda não foi vencida
É preciso de total liberdade para se ver um pouco mais longe. Mas do que adianta a liberdade estando ela presa a roda do sistema?
O tempo contra o tempo arma-se de poesia e resistência.
O barroco refulge imutável na curva infinda do seu limite insondável
A boa história livre de todos os ranços do ouro...
Dos juros, infâmia, violência, ganância, fome, medo, miséria, soberba, ódio, vingança, fortuna, furto, trapaça, nada tenho a dizer...
Somos todos artistas.
Somos todos barrocos.
Somos brasileiros
Trabalhamos nos limites das formas
Criamos a beira do caos a gazua que abre as portas do saber e do prazer
Temos a certeza que existe um mundo melhor no nosso caminho
Saímos
De Ninguém
Para
Lugar Nenhum
O infinito é barroco
O universo é barroco
A terra é redonda
O céu é azul
No mundo Pequeno
Atômico
Barroco
Elétrons giram e bailam num frenesi
incontrolável
fora do tempo
Passado o presente Chegamos ao futuro
Vislumbramos o incomensurável amanhã
Redescobrindo a vida e seu caminho
Para sempre
Sem fim
Miramar e Janaina
Janaina nasceu no mar
em noite de lua cheia.
Cabocla brasileira
batizada pelo sol.
Princesa de multi reinos
dama de muitos amantes.
Um dia encontrou seu par
a noite se
apaixonou
Miramar era o seu nome
nascido em profunda grota.
Na terra da solidão onde acaba-se a última porta
oh! Pura contradição.
Rio d´águas negras
céu de lamas escura flor de
lótus verde lodo de folhas secas
formando o Solimões
O Amazonas timoneira
tapete verde
cobrindo a mata espessa.
Na voz de um pássaro sobre o
pantanal
um grito ecoa...
Misturado às estrelas
no
céu soa
Inteligente som pulsante de infinitas combinações
O mesmo som repetindo sua
presença
soa
ausência em mistério voa.
FIM DO SÉCULO
Geração de rebeldes sem
causa.
Gostaria de vos dizer alguma oração que expressasse em verdade tudo o que eu sinto em relação aos perdidos e malditos de toda essa nossa geração.
A geração dos mil e novecentos e quarenta.
Geração louca do filho ímprobo!
Geração do pós-guerra.
Geração dos nossos pais.
Geração dos filhos-da-puta!
Geração do nada que eu faça produzirá coisa alguma que se quer contra mim. Nada que poderá modificar uma pequena linha de toda a nossa história.
Como-lhe?
Gostosa!
Onde está Apolo e suas musas?
Escrevo com fé no intuito de decifrar a hagiologia que dignifique os meus pensamentos e minhas dúvidas.
Em poucas palavras, leitores de trovas e poetas amedrontados - parnaso – montanha do nada – vaidade humana – coisa à toa.
O que eu posso e o que você tem para comemorar neste meio século de vida?
Absolutamente..
Nada!
Nada mesmo!
Gostaria de vos dizer alguma oração que expressasse em verdade tudo o que eu sinto em relação aos perdidos e malditos de toda essa nossa geração.
A geração dos mil e novecentos e quarenta.
Geração louca do filho ímprobo!
Geração do pós-guerra.
Geração dos nossos pais.
Geração dos filhos-da-puta!
Geração do nada que eu faça produzirá coisa alguma que se quer contra mim. Nada que poderá modificar uma pequena linha de toda a nossa história.
Como-lhe?
Gostosa!
Onde está Apolo e suas musas?
Escrevo com fé no intuito de decifrar a hagiologia que dignifique os meus pensamentos e minhas dúvidas.
Em poucas palavras, leitores de trovas e poetas amedrontados - parnaso – montanha do nada – vaidade humana – coisa à toa.
O que eu posso e o que você tem para comemorar neste meio século de vida?
Absolutamente..
Nada!
Nada mesmo!
Vejo ali
o cavalo envergado pela luz
estelar
Galopando frenético sobre o criador do sonho
No seu mundo perdido entre as galáxias
Sem tempo! Um novo luminar no espaço puro
Observado a distância de um lugar seguro
Azáfama no encontro explosivo das massas
Galopando frenético sobre o criador do sonho
No seu mundo perdido entre as galáxias
Sem tempo! Um novo luminar no espaço puro
Observado a distância de um lugar seguro
Azáfama no encontro explosivo das massas
Fico em pânico! Retiro o olhar da lente
Sigo em frente. Mais alguns anos luz
O fim das coisas mostra-se medonho
Passa-se o ultimo milênio
A humanidade vai pesar seu gênio
Eu vou afagar meu sono.
HÁ... VOVÔ!
AVE NINA
NO BARCO
NO MAR
NO AMOR
DO AVÔ
AVOADO
VOANDO
ARQUEADO
OBSTINADO
OBCORDADO
TAL QUAL FOLHA
FOLGAZ
FLUTÍVAGO
EM MARÉ
NUNCA DANTES
NAVEGADA
OBSERVA
O NINHO
DA GÁVEA
SUBMERSA
NOS OLHINHOS
NEGROS
ARISCOS
DA MENINA
NINA
TÃO LINDA
CÂNDIDA
SEREIA DE AREIA
LAVADA - LEVADA
PELAS ONDAS
DE TANTAS HISTÓRIAS
QUE AINDA IREMOS CONTAR
AH! NINA
AS NUVENS
DO COSMO
SÃO NOVAS ESTRELAS
PELO CAMINHO
DO SOL E LA
ESTAREI SEMPRE
AO SEU LADO
NOS TEXTOS
NAS IMAGENS
NAS LIDAS ILÍADAS
DA POESIA
VIVIDA
CADA DIA
COM TANTA SAUDADE
DEIXADA NO PORTO
DA NOSSA INFÂNCIA QUERIDA
QUE OS ANOS NÃO TRAZEM MAIS
BILHETINHO UM
Raquel estou novamente
experimentando o fax tenha portanto paciência.
Não cabe aqui nenhuma
dedicatória enaltecendo o meu amor por você,
pois desta água bebemos todos
os dias.
Mas ficaria bem remeter,
nesta singela mensagem, um pequeno verso, composta de improviso, ao gosto
destes sete anos do nosso envolvimento.
Nosso amor tem sete anos
Mas que sete eternidades
Não estava nos meus planos
Amar-te com tamanha vontade.
& DOIS
Infelizmente um morcego
pequenino
pretinho e aveludado
escondeu-se
por de baixo da escrivaninha.
Tentei expulsá-lo
colocá-lo de volta em seu
hábitat
não tenho coragem de matá-lo.
É um mamífero!
Você sabe das minhas
convicções
não me permito esse massacre
covarde
contanto que outro o faça
lavo as mãos
eu não participando... vai
lá!
Que vergonha, tenho medo
mas se puder jogá-lo para
fora
sem machucá-lo
deixá-lo à noite viver
livre, vivo, vampirinho.
Peça alguém, o porteiro, o
bombeiro, sei lá!
para arrastar o móvel e
tirá-lo de tamanha angustia
se não passa a ser a escrivaninha
seu refúgio
seu ninho para sempre seu
alaúde.
Deixei a porta aberta na
esperança que esse quiróptero
saia de fininho antes que apareça
alguém e a noite finda
mate-o torturante de
mansinho.
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